quinta-feira, 4 de novembro de 2021

sobre os primeiros 18 anos

finalmente chegamos neste dia. agora você tem a idade que eu tinha quando engravidei de você. muito longe de almejar que padrões se repitam, penso agora em como somos diferentes, em como você está sendo diferente do que fui na sua idade... e é assim que tem que ser, ainda bem. as vivências não foram iguais, mas também foram porque falar de ser mãe compreende igualmente o papel de ser filha. as mulheres que nos tornamos. eu ajudei a te forjar e você a mim. uma moldando a outra sem formas terminadas. de todas as coisas que eu disse que não faria e fiz, de todas as coisas que não fiz e disse que faria como mãe, uma tenho certeza que se manteve: a de criar você pro mundo. 

nunca te quis pra mim, dentro de uma caixinha, porque a sua caixinha é muito grande. não tem bordas, muros, tampas nem limites. a sua caixinha é lá fora. vai pro mundo, filha. sei que, por enquanto, ainda estás aqui, debaixo das minhas asas, mas sei que logo esse passarinho voa; está cada vez mais perto desse dia. quando ele chegar, eu espero que você saiba que, por mais que a vida lá fora não seja nada fácil, sempre terás um ninho pra te acolher durante as tempestades. te amo. feliz 18!


sexta-feira, 17 de setembro de 2021

sobre a reza e o sonho

eu não acredito muito, ou melhor, não acredito nada, mas ainda tenho um pouco de medo. alguns dos trechos me fazem sentir boba, parece até que estou contra meus princípios. ainda assim, continuo ouvindo, adaptando mentalmente para as ideias que fazem sentido para mim... e não é que venho percebendo alguns movimentos dentro do meu emaranhado? 

meus sonhos estão falando comigo, talvez mais alto do que antes, e tento entendê-los. eu sou a casa, eu sou mãe com o tiro na testa, eu sou a filha pequena e o irmão cuidadoso. sou também o filhote de gato com duas carinhas e a cobra que tenta me dar o bote. 

não pronta ainda, e nem sei se por isso, mas tenho tido um pouco mais de vontade de estar aqui, escrevendo. 

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

sobre os sons que fazemos e as viagens que sonhamos

sabe a postura? tenho que corrigi-la. coluna ereta, cabeça encaixada, queixo levemente pra cima, peito pra fora e barriga pra dentro. daí, deito de ladinho porque é a posição mais gostosa e confortável e fico com os ombros encolhidos, toda torta, com a cabeça mal posicionada, mais baixa do que deveria; o pescoço em ângulo ao invés de bem retinho... ui ui ui, murmuro de dor, ouço estalos de vários ossinhos, de várias partes... tento encontrar o conforto no travesseiro mexendo a cabeça, meio que me aninhando, miando baixinho enquanto te dou boa noite.

cabeça com cabeça; não pode haver um buraco entre os travesseiros porque elas rolam pelo macio durante a noite, nos sonhos, enquanto estamos cada um no seu universo inacessível, mesmo de mãos dadas, mesmo juntos nos despedimos na hora de dormir, porque nesse momento cada um vai pra um lugar, que nunca sabemos onde fica, nem com quem vamos nos encontrar. mesmo lado a lado, nos deixamos. outro dia, pegamos um avião e fomos para a China. caminhos e caminhos para chegarmos até o aeroporto. depois, malas e guichês; escadas rolantes e salas de embarque. nos meus sonhos os aviões têm um quê de ônibus espaciais... voamos e chegamos ao destino. muitos turistas, ruas cheias e paisagens novas. eu busco por um perfume; estou sempre atrás de um cheiro a mais para a minha coleção de lembranças.

o sonho acaba porque acordo. volto da minha viagem; você, da sua. dessa vez, me lembrei, mas nem sempre sei para onde fui ou o que aconteceu. fica ali, perdido na viagem inconsciente. às vezes, no meio do dia, alguma coisa corriqueira que acontece traz à tona e me recordo. é como um déjà vu. a coluna estala, a escápula dói. nos olhamos, nos cumprimentamos, perguntamos como foi a noite; o sonho impenetrável até pra gente mesmo. penso nos grunhidos que faço quando me espreguiço feito um gato; penso nos gemidos gostosos que dou quando como uma comida muito boa. 

nos levantamos e tomamos banho. tomamos café. nos despedimos porque é só segunda-feira ainda. suspiro quando você vai embora. volto à sala de embarque que é a minha cama, pensando que poderia viajar novamente, mas a vida urge porque é só segunda-feira ainda. último dia de férias; gemo.

sábado, 29 de maio de 2021

sobre a abertura do amor

quando era criança, e durante a adolescência também, sempre que eu tinha uma dessas crises de riso entre amigos, pela razão que fosse, se minha mãe estivesse por perto, ela dizia: "quem ri muito num dia, chora no outro". introjetei a frase em mim de tal forma que mesmo quando não havia a presença dela, eu sentia um pouco de medo e até de culpa por rir, por me divertir, por me sentir feliz. achava que o evento infeliz que me faria chorar seria na mesma proporção da felicidade. pensava lá no fundinho que não poderia ser muito feliz porque a dor viria logo em seguida.

digo agora que é muito ruim pensar desse jeito, é muito limitante acreditar por qualquer motivo que não somos dignos de alegria porque a tristeza vai tomar o seu lugar em algum ponto. é muito injusto sentir remorso porque a vida equilibra o caminho com um pouco de cada emoção. eu sou experiente com a dor, com o vazio, com a apatia, com a raiva. eu sou muito familiarizada com grandes mergulhos em mim mesma, nos quais perco a perspectiva e me afundo em tristeza e falta de sentido. sendo hoje um momento distinto, enxergo as palavras que escrevo pensando: mas já doeu tanto assim? olhando pelo vidro que agora é translúcido, talvez eu veja que não havia razões pra ter doído tanto, ainda assim, foi como me senti e não vou invalidar meu sofrimento.

fato é que sempre me entreguei mais ao que me combalia do que ao que me enternecia. criei casca, couraça, camadinhas de acidez e azedume. deixei de lado o otimismo pueril e as gargalhadas nonsense pra me tornar uma criatura de olhar niilista e conformada com as objeções que eu achava que a vida fazia a minha pessoa. ser feliz, assim, como algo perene, foi se mostrando como um cenário cada vez mais distante pra mim. ninguém é feliz o tempo todo; temos momentos de felicidade intercalados com o mecanicismo da vida, com as funções, demandas, tarefas. a gente bebe no final de semana e faz de conta que está tudo bem pra aguentar a próxima semana e assim a vida segue até acabar um dia, eu pensava.

não era absolutamente ranzinza e tenebrosa o tempo todo, desde que não tomassem como primeira impressão a minha cara que, por natureza, é mais fechada. pareço emburrada, séria, mas por debaixo de toda essa capa, das máscaras todas que tive de aprender a usar, ainda havia - e há - a menina, aquela da infância a quem abraço de vez em quando, aquela que coloco em meu colo e a quem digo que amo e que está tudo bem, que vai ficar tudo bem. às vezes, consigo enxergar em mim também a adolescente, aquela com grandes sonhos e prospecções, excitada com as promessas da vida. elas continuam todas aqui dentro, junto com muitas outras a quem já dei ouvidos em circunstâncias diferentes de todo o meu percurso.

aqui, onde me encontro agora, e isso é só mais um momento, tenho me percebido feliz, feliz, muito feliz! tenho vontade de correr pela rua gritando, arrebatada por tudo o que estou sentindo. isso vem da minha capacidade de amar, de trocar, de compartilhar, de me permitir; todas habilidades que estavam acumulando pó dentro do coração vazio e inquieto. isso tudo sou eu, mas como nunca estamos sozinhos - apesar de que, sim, estamos sozinhos o tempo todo -, as nossas potencialidades se mostram e se expandem quando estamos em relações, quando nos colocamos em relação a alguém/alguéns. eu disse aqui que estava aberta a ser fodida pela vida, desde que fosse com amor e, bom, ela tem sido muito generosa comigo. o final do verão me desabrochou pra sentir novamente. desencantei do impossível, do inalcançável.

atraquei meu barquinho em um porto-seguro muito diferente de todos os portos pelos quais já passei. é muito difícil, pra mim, elaborar em palavras, mas eu sinto. é um caldeirão com sopa densa, perfumada e parece que nele estão contidas todas as emoções e os sentimentos mais bonitos que já provei. as coisas sempre aconteceram assim comigo: quando eu menos esperava, ou quando já não esperava por mais nada, a vida vinha e me trazia presentes. eu os abria com grande entusiasmo e achava que seriam meus pra sempre, mas sempre não existe e, quando ela os tirava de mim, eu sofria agarrada às ilusões do controle. então, sem nenhum planejamento, ela me presenteou de novo e é como um ovo de páscoa recheado porque não há só uma surpresa. a delícia vem com mais delícias! a pessoa vem com uma pessoa que, por sua vez, vem com mais uma pessoa e a relação se dilata, cresce. é Bárbara a possibilidade de juntar as nossas malinhas e mochilinhas e colocá-las todas para viajar. tirarmos de dentro delas nossas vivências, nossas impressões, nossos sentimentos e sermos capazes de partilhar, de trocar, de dar e de receber.

é recente, só que não se trata de tempo; trata-se de intensidade, de transparência, de respeito, de abertura. trata-se de carinho, de cumplicidade, de descoberta e de curiosidade pelos outros. trata-se de admiração, de honestidade e também de liberdade. eu não tenho a menor ideia de pra onde toda essa experiência vai nos levar, mas acho que ela resume o que as pessoas querem da vida no final das contas: a gente quer amar e sentir que somos amados, queridos, compreendidos, amparados junto de outras pessoas. as relações afetivas felizes reverberam para os demais âmbitos da vida e isso é fantástico! quanto mais felizes nos sentimos, mais somos capazes de amplificar todo esse amor pra tudo o que está a nossa volta e, daí, a gente se multiplica no outro, daí vale a pena.

e é isso; estou besta, apaixonada, envolvida por tudo o que vem desse presente, da surpresa despretenciosa e do tempo em que a estou vivendo. é leve, é lindo e, pode ser que seja só um momento, mas agora ele é de verdade. 

sexta-feira, 30 de abril de 2021

sobre o estranhamento da felicidade cálida

a despeito de tudo o que está acontecendo lá fora, aqui dentro parece que os habitantes estão se acomodando, sem impaciência, sem urgência. parece que se olham entre si e caminham para onde acham que é o seu lugar, sem medo de que o lugar não lhes caiba; assim estão se assentando. não se cobram, não me cobram. eu os observo e eles se veem observados, mas não se importam; seguem o caminho que acham que devem seguir. pode soar estranho, mas estou me sentindo feliz. 

depois de um período soturno, angustiante e letárgico, é como se a vida tivesse voltado a um compasso acertado, daqueles que não são eternos, em que se juntam pequenos momentos febris e leves, daqueles que não queremos que passem, mas já se foram. a beleza do compasso certo é que ele mantém o caminho aberto pra que esses lampejos se repitam, e assim tem sido, desde que me deixei levar, desde que soltei a corda, desde que deixei o controle daquilo que não me cabe. é uma boa maneira de se agir e, pode soar estranho, mas estou me sentindo feliz. 

e isso quer dizer muito, porque sinto como se a felicidade fosse clandestina, escondida da tristeza, das cicatrizes; é como se fosse uma traição à dor que sempre foi mais presente e mais familiar. o excesso de tristeza e de apatia, em algum momento, causam náuseas, cansaço mesmo de senti-las. a mente pensa demais e pouco age; o torpor também cansa. fico cansada de estar cansada. cansada de me sentir infeliz; então corto os laços com a dor, com parte da história. quero tecer novas redes, criar novos enlaces com tudo que queira se envolver comigo. eu quero e, pode soar estranho, mas estou me sentindo feliz.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

sobre bater e apanhar

essa semana eu disse ao meu analista que não gosto quando ele se atrasa pras nosssas sessões porque isso me deixa ansiosa. às vezes, eu acho que não tenho nada a dizer, mas semana a semana, tenho vomitado mais. são golfadas que saem de mim e que gosto de compartilhar com ele. disse a ele que lhe conto tudo que conto à Thaz, que temos a mesma interlocução, com a diferença de que ele é um homem me ouvindo. é claro que ele não me diz o que diria um amigo, mas falo pra ele coisas que não diria a um amigo homem, e é um tanto libertador saber que posso lhe contar qualquer coisa sem medo do que ele pensa de mim - e ele deve pensar - mas é aí que está a libertação, foda-se o que ele pensa a meu respeito porque nem eu estou ali pra agradá-lo e nem ele está ali pra me julgar; parece uma troca bastante justa. eu pago para que ele me bata subjetivamente. em toda sessão levo alguns tapas, chacoalhões. a análise te estapeia, desestabiliza, te faz ligar pontos e fazer conjunturas que você não imaginava serem possíveis. "é preciso sair da ilha para ver a ilha". isso é sempre um deleite e uma dor. há momentos em que começa como uma dor e que depois se transfiguram em alívio, em confusão, em questionamento...

dito isso, volto aos tapas, ao ato de bater e de apanhar, à sensibilidade de quem bate e de quem apanha. há, claro, dias e dias; são todos distintos e imprevisíveis, mas no geral, gosto de apanhar. não me entenda mal você que, por ventura, lê isso. gosto de apanhar, mas não deliberadamente. se você simplesmente virar a mão na minha cara, é provável que eu vire na sua de volta; mas se eu peço que me bata, então me dê o seu melhor tapa. ele pode começar tímido e ir se revelando em uma crescente de som e vermelhidão. eu gosto quando sou eu quem pede e, se sou eu que peço, isso me faz jubjugada ou dominadora? não sei dizer, talvez seja uma miscelânia e é o que somos, não é? um pouco de muitas coisas.

deixar-se vulnerável para apanhar e sentir de fato o que a dor suscita. raiva e tesão. vontade de revidar, mas de continuar no papel. me vejo no espelho refletida e me sinto linda nesse personagem, me vejo brilhando, regozijada, mas só é assim porque é o que eu quero, quando quero, na intensidade que quero, no momento em que quero, dentro do espaço da experimentação. eu me experimento. fora dali, sou mole, besta, sensível e, por vezes - muitas - também sou tudo isso no mesmo espaço. na pausa da exaltação, me faz uma massagem com as mãos leves, não me aperta, não me puxa, não me bate porque eu não gosto. eu fico roxa fácil e você pode me deixar roxa, mas só se eu pedir. olha no meu olho; eu gosto de ver. me dá "oi" e me olha, me come só assim, com os olhos e depois me come do jeito que quiser. fala o que quiser, mas não me pressiona. fala o que quiser, mas não fala o tempo todo. fica quieto, mas não pra sempre. 

faz como quiser, mas também me segue; faz como quiser, mas então fica parado porque é o que eu quero. me beija e depois deixa que eu te beije. beija a minha mão e deixa que eu lamba os teus pés porque é o que eu quero, de cima abaixo. isso raramente acontece comigo, mas agora não sei como terminar o que comecei. então é isso; acabou.

p.s.: em todos os âmbitos da vida, apanhamos. a vida bate com força e sem permissão mas, quando se tratar de outra pessoa, tudo pode ser, inclusive nada, se você não quiser. consentir ou não, essa é a chave. o limite é o que se dá. não se ultrapasse.

p.s².: não sou a pessoa que bate; não gosto de bater. talvez não goste porque, apesar de bater ser exercer uma ação sobre o outro, só o faço se for obedecendo a um comando e eu não gosto de obedecer ordens; não gosto que mandem em mim. é contraditório que o que poderia ser visto como um ato de dominação sobre o outro, pra mim, seja visto como submissão e eu não tenho problemas em ser submissa, desde que isso seja a tônica do momento e não uma submissão travestida de dominação - porque sou eu quem bate, mas só bato porque você manda, então me submeto -, eita, que eu achava que tinha acabado, mas está indo longe... aí está! ao mesmo tempo em que gosto de dominar, gosto de ser subjugada, tudo junto, tudo ao mesmo tempo e na minha cabeça isso funciona muito bem; na prática também, não posso me queixar.

segunda-feira, 29 de março de 2021

sobre a morte e os sentidos

eu não iria escrever hoje, mas a verdade é que nunca sei quando vou querer. às vezes penso em algumas coisas que me transbordam e sei que elas só fariam algum sentido se eu as escrevesse. se fazem sentido ou não quando viram palavras, não posso afirmar com certeza - aliás, a certeza não tem feito muito parte do meu vocabulário e talvez isso seja bom, não sei é só o que sei; que não sei de nada. não saber pode parecer libertador por um lado, mas por outro é só desespero. ando sobre a linha que separa uma coisa da outra. sinto as duas ao mesmo tempo, mas ainda consigo distingui-las, o que causa um pesar na liberdade e uma leveza no desespero. a vida fica agridoce, mas acho que ela é assim mesmo a maior parte do tempo.

não tinha colocado os pés para fora de casa hoje, até que os cigarros acabaram. eles são um grande motivador de procura da rua. lá vou eu então. satisfeita em ir de livre vontade buscar por algo que acaba comigo. até quando? eu digo que serei uma pessoa melhor, mas continuo comendo cigarros. o curto passeio pela noite é gostoso. o clima está agradável depois da chuva e, na volta, sinto uma vontade passageira de ir ao cemitério, mas desisto porque já me surgia a vontade de estar aqui, escrevendo.

penso na morte e daí percebo que penso nela todos os dias e isso não é ruim. penso que preciso fazer um testamento vital porque as pessoas só escolhem quem vai ficar com o quê no caso da morte, enquanto estão vivas e, como ela tem nos rondado tão corriqueiramente, acho que é acertado pensar nos seus detalhes. ainda vou escrever algo elaborado e minucioso. um inventário de coisas que significam algo para mim e, bom, isso não quer dizer que quem continuar vivo depois de mim vai querer as minhas quinquilharias, mas é porque não quero ser esquecida, quero continuar viva mesmo depois de morta e só consigo isso se as pessoas se lembrarem de mim.

alguns pontos mais amplos: quero doar meus órgãos, o que for possível - não sei o quão estragada estarei quando ela chegar; quero ser cremada, mas ainda não sei que destino quero que deem às minhas cinzas... não sei se quero ficar na estante da sala, se quero ser dividida entre entes queridos, se quero ser jogada no mar ou em algum lugar bem bonito... pensando agora, não sei se tenho um lugar preferido onde gostaria de ter minhas cinzas espalhadas... é algo a se pensar. quero criar uma playlist com as minhas músicas favoritas para que sejam tocadas no meu velório. quero deixar uma grana reservada só para os comes e bebes desse dia. não quero ser cremada na pressa, no mesmo dia, nada disso! quero ser celebrada. quero a galera comendo pizza e dizendo enquanto choram: a Karla adorava pizza! =~~ quero ver a galera enchendo o caveirão de álcool e falando: vou sentir falta dela... =~~ quero ver a galera comendo um pudim de leite e entre uma colherada e outra reclamar: o pudim que a Karla fazia era melhor do que esse =~~ vocês vão chorar porque é claro que uma pessoa encantadora como eu fará muita falta ao planeta, mas eu quero que chorem enquanto comemoram o fato de eu ter existido um dia, sabe?

por favor, não me interpretem mal; eu não quero morrer, mas já que esse é o destino que espera por todos nós, quero que a minha despedida seja feita do meu jeito e acho que todo mundo deveria pensar nisso também, porque de alguma forma dá um norte pra quem fica e como a morte em si já é tão dura e triste, como a perda abrupta de quem a gente ama já é foda o bastante, fazer o que a pessoa queria é um gesto também de carinho, vocês não acham? eu me esqueço de que estou falando comigo mesma, mas todas as minhas inúmeras moradoras concordam comigo e isso basta.

no fim de semana passado fomos assistir ao sol nascer na praia. a última vez que tinha feito isso foi no dia do meu aniversário no ano passado, e o sol sorriu lindamente comemorando o meu nascimento, mas era um dia frio. no domingo, quando fomos, havia chovido na noite anterior e o dia que nascia estava nebuloso no horizonte. o clima estava deliciosamente ameno, quase abafado, em um início de outono. o sol não brilhou em plenitude porque as nuvens o encobriram, mas indomável que ele é, surgiu alaranjado como um olho que pisca faiscante no céu, lindo. deus é o sol e isso é uma outra conversa. como o clima estava bom, fui checar a temperatura da água que, como eu havia imaginado, estava ótima! quase morna, propícia. o mar estava do jeito que é, falando pelas ondas, com a água transparente, mas salpicado de pequenas algas. ali ficamos por um tempo, cortando as ondas, sendo levemente arrastados, mergulhando e engolindo água em momentos desavisados. ficamos por tempo o bastante para a água entrar nos ouvidos, fazer arder as narinas e começar a assar os lábios com o seu sal.

parece que quanto mais pueril, mais significativo é o momento. ir à praia e tomar um banho de mar é das coisas mais satisfatórias que pode haver pra mim. é em ocasiões como essa que coloco mais um tijolinho no muro de sentidos da vida, da minha vida. isso é o que faz sentido, estar ali, assim como agora estou aqui, fazendo registro, querendo que toda a experiência caiba no que escrevo, mas não dá. a gente vive a experiência e puf! - já foi. as minúcias evanescem, mas a sensação permanece e talvez isso seja o suficiente para manter o sentido aceso, válido, quente e possível.

segunda-feira, 22 de março de 2021

sobre não haver garantias

joga fora o que tinha escrito antes, apaga. tudo confuso, emaranhado. é complicado explicar a ansiedade que não é a mesma da pessoa que vive em constante estado de alerta, não é disso que tô falando. não acho que vou infartar ou morrer, mas meu coração está aos saltos dentro do peito. o estômago congelado, difícil de ligar os pontos entre as vísceras. não estão concatenando as sensações. odeio não conseguir expressar. - fala! - eu penso, mas não sei o que dizer. oscilo entre a aflição e um breve estado de plenitude. não sei se o chão se abriu sob os meus pés ou se fui eu que subi em um altíssimo prédio e me joguei, mas sinto que estou em queda livre. não sei quão perto estou de chegar ao chão de novo, mas sinto algum conforto de saber que não posso ultrapassá-lo uma vez que nele esteja; esborrachada talvez.

quem sabe seja sempre como um passeio em uma montanha-russa. você vê o brinquedo no parque e ele parece ser o mais excitante entre todos. todas as subidas, descidas, loopings e curvas. você, então, entra na fila e descobre que ela é grande, exige espera, paciência e, enquanto sua vez não chega, você fantasia e já sente toda a sorte de reviravoltas na barriga. quando você percebe que é o próximo, pode pensar em desistir da aventura ou pode escolher sentar no primeiro carrinho. vai da coragem do passageiro. enquanto você sobe bem devagar e protegido em seu assento, pensa que nunca deveria ter sentado nele, na medida em que se vê cada vez mais distante de onde seus pés pisam. eu não falei, mas nessa montanha-russa, seus pés estão suspensos; você flutua e não sabe dizer se isso é bom ou não. 

a subida é lenta e gradual e você quase para quando chega no ponto mais alto, quando em um milésimo de segundo, pensa: - hm, acho que poderia ficar aqui mesmo, não quero ir adiante e, apesar de muito alto, aqui não parece tão aterrorizante... antes que finalize a linha de raciocínio, você é lançado trilhos abaixo, em toda a velocidade, ao mesmo tempo em que tem a sensação de morte e de desespero, da total falta de controle porque você só está ali - não há como fugir e tudo, tudo, tudo e qualquer coisa pode acontecer, inclusive nada. quando você consegue se entregar às engrenagens do brinquedo é que entra na brincadeira, é que se satisfaz com ela. só quando você entende que está tudo bem é que consegue gozar e aproveitar o passeio, e é só quando o passeio termina que você percebe que poderia fazê-lo de novo, mais vezes, se seu coração aguentar. 

montanhas-russas têm um risco calculado; são seguras. é fácil quando você sabe que mesmo sentindo todas as emoções ali, você vai sair inteiro no final das contas. a parte não divertida da vida é saber que andamos em montanhas-russas que foram construídas por outras pessoas quaisquer. ninguém é especialista em montanhas-russas. na vida, vemos os parques de todo mundo, andamos em carrosséis sem graça nenhuma; dirigimos carrinhos-de-choque, nos assustamos nos trens-fantasmas, nos empapuçamos com algodão-doce e maçãs-do-amor, mas o que a gente quer mesmo é dar uma volta na montanha-russa. a grande questão é que não há garantia de nada. se você vai chegar intacto no final do passeio, só saberá depois que ele começar. 

segunda-feira, 8 de março de 2021

sobre não ter mais desculpas

quando eu era criança, lá pelos nove anos, eu era bem ativa nas brincadeiras da escola. adorava correr! a gente brincava de pega-pega e tinha até uma modalidade muito peculiar, acho que criada por mim mesma: elegia um colega de sala como Jason - o Vorhees, com a máscara e o facão, dos filmes, sabe? - e a brincadeira consistia em eu sair correndo gritando por socorro porque o Jason queria me matar. corria em círculos em volta da escola, desesperada... ah, a infância, essa época de ouro em nossa vidas! jogava queimada, brincava de cabra-cega, de esconder... até que ali pelos dez anos, tive uma crise de falta de ar na casa da Luiza, isso nunca tinha acontecido antes. Minha mãe me levou no doutor Kleber e fui diagnosticada com asma. nessa época não usava bombinha nem nada, mas fazia nebulizações com berotec que me deixavam com uma tremedeira do cão!

me lembro de uma crise em que precisei ir para o hospital várias vezes no mesmo dia, por conta da falta de ar. de repente, isso virou uma autorização para eu ser uma vadia. não podia correr porque sentia falta de ar. com doze anos, me lembro de uma outra crise feia em que fiquei na cama por uns dias, tamanho o cansaço pra qualquer atividade física. o Felipe, meu irmão, me levava até no banheiro porque eu sentia falta de ar no percurso. pronto. ganhei um atestado eterno para ficar imóvel em todas as aulas de educação física durante todo o resto do meu percurso escolar. na sexta série, ao invés de jogar com meus colegas, eu era dispensada e ia pro cemitério, que ficava do lado da escola, e ficava fazendo brincadeira do compasso em cima das lápides. meu fôlego se mantinha intacto com isso.

e assim foi, da sexta série ao terceiro ano. eventualmente eu fazia alguma coisa, mas nunca era obrigada e achava ótimo. idiota que fui. com dezesseis anos comecei a fumar e aí a merda se instaurou na minha vida. eu nunca mais tive crises tão sérias, mas depois de namorar um asmático, eu, que nunca tinha usado uma bombinha, comecei a usá-la, isso já com vinte e três, vinte e quatro anos. 

depois de tanto tempo sedentária, várias foram as vezes em que me inscrevi na academia, fui alguns dias e depois nunca mais. não sentia nem vergonha de abandonar; sentia um pouco de vergonha de estar ali, gorda e desajeitada no meio da galera fitness que não é lá muito receptiva, ou pelo menos não eram naquele tempo. eu odiava as músicas, as pessoas, o ambiente em si; odiava tudo, mas talvez só estivesse mesmo com ódio de mim mesma e da minha falta de persistência. tá bom, academia não era pra mim. tentei natação, e só faltava colocar os bofes pra fora na piscina. fiz yoga, que gostava muito, mas as pessoas namastê também me incomodavam. fiz pilates e super curtia, mas achava muito caro pra tão poucas vezes na semana. tentei andar de bicicleta, mas três delas foram roubadas... enfim, vejam que eu sempre arranjava uma boa desculpa pra desistir e pra continuar me odiando por isso.

bom, corta pra uns quinze anos depois e cá estamos hoje. Karla, 36 anos, fumante, asmática e sedentária. os três maiores prazeres da vida? dormir, comer e foder, nessa ordem. quem me conhece sabe que dormir é o meu maior talento, no qual sempre fui bem sucedida, mas se eu quiser chegar aos quarenta, que estão logo ali na esquina, com alguma dignidade, preciso me mexer. por essa razão, parti para mais um investimento de peso, depois de uma esteira que virou cabide, depois de um simulador de caminhada; depois de uma enorme plataforma vibratória que virou um elefante branco na despensa, desta vez, meus empreendimentos de sucesso são uma estação de musculação e uma bicicleta ergométrica que comporão minha academia em casa. três andares de casa têm que servir pra alguma coisa afinal de contas.

estou ansiosa e animada e terei até um treino personalizado porque sou uma pessoa séria que tem um personal trainer. quero informar que os tempos de vadiagem acabaram para esta pessoa. tenho objetivo de ser musa fitness? obviamente que não, e por favor, se eu me tornar a pessoa que tira fotos dos momentos de "treino" e que escreve na legenda #tapago, me deem um tiro! mas, a despeito disso, minhas grandes pretensões são de fazer a minha bunda crescer e ficar dura e me tornar uma pessoa forte, porque apesar do tamanho, sou uma franga de fraca. não quero músculos, quero tônus, disposição, mais fôlego e mais movimento para a minha vidinha linda.

o cigarro vou parar eventualmente, calma que é uma coisa de cada vez!


terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

sobre despedidas simbólicas


são 22h01. cheguei em casa. estou levemente embriagada. depois de quase vinte anos, enterrei meu pai. não, ele não estava mumificado e entocado no meu guarda-roupas. ele já não existe há quase vinte anos. quando ele morreu, eu era mais nova do que a Ana é hoje e eu estava a milhares de quilômetros de distância. não participei da despedida. não tive escolha; soube da morte pouco antes do enterro. eu não sabia de nada, não entendia coisa alguma.

hoje enterrei meu pai simbolicamente porque senti como se fosse. morreu sua irmã mais velha, minha tia. ela tinha 88 anos. as pessoas da família do meu pai - e também da minha mãe - vivem tanto quanto as tartarugas de Galápagos. elas insistem em continuar existindo apesar do passar dos anos. não sei se terei toda essa gana porque viver cansa muito. ela foi velada e enterrada no mesmo cemitério que meu pai. eu o visitei. fumei um cigarro com ele enquanto chorava e conversávamos mentalmente.

minha irmã me avisou que ela tinha morrido hoje de manhã e eu quis ir ao enterro por consideração ao meu pai. tia Zélia era meio que sua mãe. ele era o caçula. eu sou a caçula. descobri que "destronei" um primo do posto de neto mais novo do meu avô. pedi desculpas a ele porque não foi a minha intenção nascer e fazê-lo descer do trono. descobri que sou a sexagésima sobrinha entre os filhos de todos os tios. eram quatorze filhos. as pessoas gostavam muito de se reproduzir nos tempos passados. a sexagésima e a última. sou a caçula entre eles também, mas bela bosta. nessa família gigante, ser o mais novo nunca trouxe nenhuma vantagem, meu pai que o diga.

foi pra mim como o enterro do meu pai e eu não sabia que encontraria lá todos os meus irmãos e a Lili. acho que isso ajudou na sensação de que era dele que eu me despedia. nossa pequena família nuclear ali, junta. doeu quando eu vi uma das filhas da tia Zélia se desfazendo em lágrimas quando o caixão deixou a capela. doeu quando o caixão subiu a pequena ladeira seguido de inúmeras coroas de flores muito bonitas, mas sem todos os seus representantes. não sei porque não estavam lá, não sei se já tinham estado, não me cabe nenhum juízo apesar de fazê-lo só pra mim. me doeu ver o caixão fechado sobre a lápide esperando para ser descido. imaginei meu pai dentro dele e senti nas filhas da minha tia a angústia de saber que entram no cemitério duas pessoas, mas que só uma delas sai de lá porque a outra fica. última morada, adeus. fica a carne e segue a lembrança. senti a dor de deixar meu pai ali, apesar de aquela já ser a sua casa há tanto tempo. foi a concretização de uma morte que eu não presenciei e doeu.

me consola um pouco saber que a vista é muito bonita. gente rica é enterrada com vista pro mar. apesar do dia quente, na hora em que o caixão deixou a capela, chovia uma chuva de verão, dessas a que já estamos acostumados e, entre céu aberto e nuvens densas, apareceu um arco-íris como tem aparecido nos últimos dias, mas os que ficam o olham e o enxergam com os olhos molhados de quem vê nisso o sinal de alguma coisa. meu pai morreu no começo do inverno - mesma estação em que nasci - e chovia naquele dia também. perguntei pro Calo se no dia em que ele morreu havia muitas pessoas no velório; ele disse que sim, que não havia onde parar mais carros no estacionamento do lugar, de tantas pessoas que havia. ele era querido. que saudade, pai. descansa. 

sobre a vizinhança à noite

eu estava escrevendo, então só quando parei foi que notei o bebê, do prédio em frente ao meu, berrando. o choro é desesperado e imagino qual a sua demanda. sono, fome, dor, fralda suja, birra... enquanto não desenvolvemos a linguagem de maneira articulada, a atenção sempre vem por intermédio de altos decibéis, pela potência da garganta. será que gritamos e urramos em algumas situações pela falta de melhor forma de nos expressarmos? será que regredimos? ou será que só somos?

vejo a silhueta de um vizinho no mesmo prédio, emoldurada pela porta da varanda, à meia luz. as luzes do meu quarto, de onde escrevo, também estão acesas e penso se ele também me vê e elocubra qualquer coisa a meu respeito. agora ele está sentado, não sei o que faz, mas a minha curiosidade não vai além do que posso ver.

o bebê que tinha parado de chorar, voltou. ele grita como uma gata no cio; é potente. sua dor reverbera, mas tento abstrair; não há nada que eu possa fazer para apaziguá-lo. será que um colo diferente ajudaria? será que um colo diferente pioraria? não sei.

olhar pela janela me lembra de todas as vezes em que transei de luz acesa e janela aberta durante a noite, na madrugada. não foram muitas, mas não sei enumerar quantas. na ocasião mais divertida em que isso aconteceu, minha cama ficava sob a janela, como o é hoje em dia também, mas em outra morada. depois da foda, meu namorado e eu começamos a ouvir algo como aplausos e um pequeno coro que gritava do alto do prédio no outro lado da rua: mais um, mais um! sentimos algum embaraço, mas era tardio porque já havia acabado, não havia o que esconder, nem onde se esconder porque já estávamos em um lugar seguro - em casa. rimos, fechamos as cortinas e dormimos. fosse hoje, estaríamos na rede e eu teria virado uma estrela de filmes amadores contra a minha vontade. bons tempos em que a lembrança ficava emoldurada apenas por uma janela e não em uma tela sob o comando de um botão que pode recriar a ação à exaustão.

o bebê ainda chora, mas vou dormir.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

sobre o que a gente quer

noite passada eu sonhei com a minha vizinha que tem o meu nome; na verdade, sou eu que tenho o nome dela porque ela é mais velha do que eu; mas na verdade verdadeira, tenho esse nome porque é o nome do meu pai, mas ele quis enfeitar e trocou o C pelo K; suponho que tenha sido pra combinar com o sobrenome. e ao primeiro nome, juntou-se a minha avó materna inteira: Cristina Fernandez. sou também ela, a quem nunca conheci. sou toda a família paterna da minha mãe, Philipovsky, e sou toda a família paterna do meu pai, Koerich. apesar de ser a minha avó materna inteira, ela provavelmente também era toda a família do pai dela, Fernandez. os homens tomam todos os espaços, não é mesmo? até nos nossos nomes... que triste é isso, pensei agora.

apesar de a minha filha ter somente os meus sobrenomes, basta uns passos pra trás pra ver que não são meus, são de homens. não foram mulheres legadas adiante, foram filhas de homens, netas de homens. que bosta. o texto não era sobre isso, mas fica a reflexão em meio à minha náusea. em meio à tensão pré-menstruação, em meio aos seios explodindo de inchaço e sensibilidade, em meio à angústia mensal de existir e não tenho nem uma boceta de um sobrenome que tenha como origem uma mulher. você nasce com uma boceta, sofre a vida toda por inúmeras questãs em razão de ter uma boceta e no fim das contas o seu sobrenome é de um homem! veja, nada contra eles, apesar de ter muito contra. gosto muito deles e inclusive anseio por me relacionar com o gênero, mas foda-se porque isso não vai dar em lugar algum.

voltando ao meu sonho com a vizinha de mesmo nome. no meu sonho havia uma casa - como quase sempre há -, a dela. e havia também a minha; mas a dela era invejável no meu padrão onírico. ocupava um longo terreno e tinha os ambientes conjugados e ao mesmo tempo bem segmentados. tudo amplo, bonito, sofisticado, mas acolhedor. nessa casa tão bela aos meus olhos, ela tinha um quarto que me permitiu visitar. não era um quarto propriamente; era uma biblioteca/ateliê/estúdio/escritório (enquanto escrevo, a azia me consome), tinha um pé direito alto, estantes de livros dispostas no meio do espaço, inúmeros quadros e ilustrações e fotos de diversos tamanhos pelas paredes. no meio de tudo havia um cavalete e agora não me lembro o que ele apoiava, se havia nele um quadro ou não...

eu ficava maravilhada como todo o lugar exalava vida, ordem e cotidiano. parecia que ali dentro tudo fazia sentido. eu invejava a casa dela e sabia que na minha casa havia um espaço assim como o dela, mas o meu não estava tão bem acabado e presente como o dela; não tinha toda a história que o quarto dela tinha; o meu espaço era um rascunho, um devir, um vir a ser do espaço que já era o dela. mas sabe o que eu vejo? não estou falando dela; falo na verdade de mim, porque ela sou eu amanhã. ela é a minha aspiração. e eu vejo no quarto como quero estar depois, no futuro. no aconchego daquele quarto na minha casa, que também sou eu, tudo eu, sempre eu e sobre mim.

no fim do sonho, em algum momento aleatório, eu ia pra casa acompanhada de um pedreiro gato, um homenzarrão do tipo bruto sensível, com quem eu caminhava pela rua de braços dados, contemplando um céu cor-de-rosa alaranjado cujo sol se punha ao fundo em um cenário atribulado de movimento e de vida se dando por toda a parte, caótica. mas ali estávamos nós dois, tão entretidos um com a presença do outro. me senti amparada, segura. o que isso pode querer dizer? me diz aí, você que observa, que interpreta, que analisa. dorme de novo. sonha mais, joga pra fora o que deseja. deixa estar. sim, tô falando com você, Karla.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

sobre mais uma primeira sessão

estou nauseada. a porrada de hoje foi ainda maior do que a de ontem. ah, ontem não teve bem uma porrada. ontem havia plantas, cristais e cheiro bom que não me lembro qual era, mas era bom. ontem tive meu ego inflado enquanto pensava que logo estaria no divã. o caso nem é esse, foda-se quando ficarei olhando para o teto ao mesmo tempo em que vomito tudo o que preciso e me engasgo com as minhas próprias palavras.

hoje havia livros e livros e livros e até um bonequinho do Freud (?) na sala. acho que o analista é meio nerd e a sala tem cheiro de desinfetante barato ou de naftalina, não sei ao certo. vi Freud e vi Lacan. será que ele empresta os livros dele? a primeira impressão entre eles foi a de que eu queria o primeiro date, o de ontem, e sei exatamente o que tô fazendo aqui comparando o analista a um cara do tinder... as possibilidades são infinitas e a gente sempre pode encontrar um melhor, então pra quê sossegar no primeiro? que diabos! eu gostei do primeiro, mas o segundo, ele me machucou de verdade, então acho que vou ficar com ele.

o primeiro parece mais fácil, mais bonito, mais apresentável e não me refiro à pessoa - que fique claro, mas a todo o contexto. eu poderia ficar com ele porque parece mais conveniente, mas eu gosto mesmo do que me fere, do que me desestabiliza. foi demais pra mim, denso. foi uma enxurrada de coisas e tô me secando até agora, que inferno!

ontem, saí da sessão quase feliz. hoje, depois de chorar sob a máscara mais uma vez - graças à minha mãe - saí da sessão triste, doída e agora tô chorando de novo porque a gente acha que o problema são as relações de agora, mas oh, que grande surpresa pra mim, descobri, falei e comecei a chorar: o lance é a minha mãe e eu pequena, lá atrás. fui desmascarada por mim mesma na frente do grilo falante. minha mãe me dilacerando de novo e eu nem sabia do que precisava, mas era de amor. minha criança ali, fodida, e eu vejo que eu sou uma fraude, que todas as minhas grandes certezas sobre o que eu poderia esperar dela e que estão bem aqui no meu consciente, gritando comigo, podem até funcionar pra Karla de 36 anos, mas pra Karlinha, praquela menina, não querem dizer nada porque a sensação de falta, de abandono e de necessidade de aprovação e validação ainda estão aqui.

meu buraco é minha mãe e nem sequer tocamos no meu pai. durante muito tempo eu busquei nos caras o amor do meu pai e só encontrei nada. minhas faltas, meus vazios, eu achava que era o meu pai que eu queria e talvez seja, também seja. eu queria os dois e agora soluço chorando porque me veio à cabeça uma das visões mais significativas que já tive quando fumei salvia. nela, eu era pequena e meus pais vinham, cada um segurando uma de minhas mãos e caminhávamos felizes sob um céu amarelo. era algo como uma cúpula amarela, uma bolha e nós estávamos lá dentro. eu estava ali com meus amores primordiais, protegida, amparada, segura. eu era amada; na minha visão eles me amavam, eles amavam aquela criança. era o ideal de amor. era felicidade, era plenitude, era tudo o que aquela criança precisava. isso aconteceu há quase dez anos e voltou, emergiu em mim hoje. não que eu tivesse esquecido, é que hoje fez mais sentido do que nunca. eu sempre usei os alucinógenos esperando ter uma expansão de consciência, buscando entender o que tinha de mais profundo e escondido em mim e esteve ali o tempo todo desde então, eu só não entendia, mas agora eu vejo.

acabei de me jogar; vou experimentar então e ver o quão fundo eu consigo ir. desejem-me sorte porque eu sei que vai doer, mas vai me desenrolar, vai me deixar livre e eu vou poder transitar melhor entre o meu raso e as minhas profundezas, como eu sempre quis.



segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

sobre a primeira sessão

lá dentro a impressão já fora ótima. interlocutor que interage. não sei qual é o princípio da psicanálise que diz que o analista deve ouvir. isso se aplica? existe de fato? usei a expressão "de fato" muitas vezes durante a sessão e me senti repetitiva e então me policiei. isso quer dizer que as coisas que eu falei ocorreram como foram narradas por mim? eu as cristalizei pela minha perspectiva e as deixei estáticas, chapadas como uma pintura rupestre sem graça?

ele me provocou; eu gostei. isso é um fato. quero análise com um grilo falante. quero uma consciência fora de mim, me cutucando com a vara curtíssima, me ferindo, me abrindo. saí de lá vibrante, quase feliz. não encontro a música que quero ouvir porque não sei qual é. parece que me limitei e ouço, ouço, ouço, mas não é o que quero escutar, não é a música que corresponde a como me sinto. quando eu canto junto com a música, me sinto potente, afinada, mimetizada; quando canto sozinha, sou só uma voz desafinada, perdida no meu próprio ritmo.

é como buscar o que comer quando não se sabe do que tem fome. você come o mundo, o regurgita e continua insatisfeito. quero me satisfazer. quero entender o desejo, o meu desejo, por que o desejo para daí poder gozar.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

sobre o que me faz gozar

no famigerado aplicativo de paquera - sim, sou antiga -, escrevi no meu perfil: 

"buscando um encontro que faça sentido; que não seja cretino, que me faça rir e que me faça gozar."

"eu arroto no primeiro encontro, e em todos os outros."

vamos, então, por partes. o que é um encontro que faz sentido? é daqueles que na conversa já me interessam minimamente. faz sentido falar sobre a chuva que não passa, sobre o governo bosta que temos, sobre novas abordagens do "oi, tudo bem?"... muita coisa pode fazer sentido ou não.

os super espertos e engraçadões me dizem que são capazes de me fazer rir e gozar, logo assim, de cara. já sei que se trata dos cretinos. sabe o que me faz gozar além de uma boa foda? gente bem-humorada, mas não idiota; homem que sabe rir de si mesmo e que entende uma ironia sem que eu precise desenhá-la. homem que se abre, que fala dos seus problemas, que mostra fragilidade. que fala da família, dos filhos, da ex. eu quero conhecer a pessoa! me fala de você! eu tô fazendo faxina agora; acabei de comer a sobra do almoço; meu dia foi uma merda; tem uma vazamento no meu banheiro... às vezes a conversa envereda para perdas e para as expectativas de vida, vai por labirintos e portas e eu não faço ideia nem do seu sobrenome, mas tô entretida, quero conhecer você. às vezes, fazemos encenações bobas, mas divertidas. é troca; você mostra um pouco de você e eu mostro um pouco de mim, mas por favor, que vá sempre mais além.

sobre os arrotos, não, eles não são piada; não são pra chamar atenção, não me tornam a diferentona porque você também arrota. os arrotos no perfil servem pra dizer que eu não faço média, que eu não perco mais tempo fazendo de conta, que eu não tô a fim de te impressionar positivamente. eles querem dizer que essa é a minha maneira de mostrar que eu sou de verdade e que se você não curtir, desculpe, mas quem perde não sou eu porque a despeito de todos os meus defeitos, eu sou uma mulher foda e se você não tem estrutura pra lidar com isso, beijo!

eu não quero saber do seu carro, da sua casa, do seu super emprego, foda-se; também tenho tudo isso. não quero saber das viagens que você já fez, nem das suas fotos sem camisa mostrando o seu corpo super sarado, foda-se. eu quero vínculo, quero relação. isso não quer dizer namoro necessariamente, muito menos casamento. mas eu quero alguém que tenha disposição para o mesmo que eu. quero quem se interesse, quem proponha. e não falo de grandes proposições, não. poxa, vamos sair pra conversar? tá de bobeira aí? então vamos no mercado comprar umas coisas pra cozinhar? vamos assistir um filme? vamos só ficar de boa, ouvindo uma música e curtindo a companhia um do outro?

eu, sinceramente, não sei o que os homens esperam desse tipo de aplicativo - além de uma foda fácil - e veja, não me queixo disso. só sair e transar pode ser ótimo, mas definitivamente não é o meu objetivo. e você pode dizer: ué, mas é só o que você vai encontrar, e eu discordo. cara, a gente vive conectado nessas porras de smartphones. faz muito tempo que aplicativos de encontros são só mais uma forma de conhecer pessoas, como um bar ou uma balada. Mas, como esses ambientes nunca foram muito a minha realidade, me vejo um tanto limitada, ainda mais em tempos de pandemia... 

a questão é: não espere que eu corresponda porque você começou a me seguir no instagram e curtiu todas as fotos em que eu estou pelada. vá à merda! como já dito em sobre o corpo, um corpo é a merda de um corpo e se o que te interessa em mim é a minha forma, sai fora. eu sou linda? sou. gostosa? pra caralho! não espere confete por me dizer o óbvio ululante. vem saber de mim, do que eu gosto, o que eu quero, o que eu penso, daí sim a gente vai poder conversar. 

os melhores momentos que tive por intermédio desse aplicativo foram ter, por exemplo, um homem na minha casa, sábado à tarde, lavando o meu banheiro. tem noção do que é isso? é isso que eu espero do tinder. não um empregadinho - o que não é tão má ideia -, mas iniciativa, sabe? nossa, esse banheiro tá precisando de uma limpeza e eu digo: meu bem, vou pegar os instrumentos necessários pra que esse banheiro fique limpo. e daí o cara vai lá e lava o recinto de cima abaixo. isso não é absolutamente maravilhoso? e faz isso com graça, enquanto eu fico na cama dando ordens. isso quer dizer que eu sou uma vadia? ora, claro que não. isso é troca. 

o melhor dos mundos no tinder seria, para mim, conversar sobre o absurdo da vida, assistir documentários e filmes e realmente falar sobre o que eles nos suscitam, provar oito drinques diferentes em uma noite, transar no carro por quase uma hora ininterrupta, sentar na lagoa e ficar olhando os carros passarem, feito dois idiotas; encontrar meus melhores amigos, ao acaso, no primeiro encontro, e me juntar a eles sem a preocupação de que não se faz isso no primeiro encontro. o melhor dos mundos é fazer tudo isso e no fim das contas dormir juntos, roçando os pés e querendo fazer de novo. isso é o que me faz gozar.

p.s.: intimidade; eu me esqueci da intimidade, mas ela também é uma grande fonte de gozo.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

sobre a praia

                                              

eu não gostava de lá a princípio. sentia-me bagunçada. vulnerável ao sol, ao vento, à areia. pra quê tanta areia? no último final de semana, vi um homem fazendo um castelo formado por uns tantos baldes das pequeninas esferas molhadas e gostei. senti vontade de fazer um com as mãos, sem ferramentas que lhe dessem forma. queria que fosse todo por minha obra, mas pensei que, para isso, deveria estar mais perto do mar, longe da areia fofa e com a areia compactada à mão. eu me sentaria sobre ela e trabalharia construindo meu castelo. não tão perto, para que as ondas não o levassem enquanto ainda estivesse inconcluso. queria poder contemplá-lo, e me imaginar dentro dele; porto-seguro instável.

a praia, esse lugar bravio onde as pessoas vão. nela sentem toda a sorte de natureza. os quatro elementos. o calor do sol, a brisa do ar, o sal da água e a terra que não é firme; é macia, é seca e molhada, quente e gelada. você fica dentro e fora. sobre e sob. são muitas sensações e quase todas à nossa revelia. a praia é uma experiência de desprendimento. de frescor em dias escaldantes. de imaginação em dias encobertos. de apreciação da luz e do som assustador e nunca repetido das ondas. da brisa salgada que cola na pele junto com a areia que empana os corpos. a praia é uma grande experiência de pessoas à moda milanesa. alguns, as crianças especialmente, alegram-se de se refestelar sobre seu chão; outros, como eu, não apreciam o contato inquietante com o que há lá em muito maior quantidade do que se poderia contar. quantos grão será que há? serão passíveis de contagem? incômodos que são, jamais me daria ao trabalho infinito, mas me pergunto.

da mesma forma, me pergunto como funciona o mar. por que não nos invade? por que não nos toma enquanto estamos virados para ele, fitando-o com olhos embasbacados de admiração? por que não se vinga de nós? eu me vingaria, todos os dias. arrastaria vários para o fundo. se fosse o mar, eu afogaria a todos que viessem brincar em minhas ondas. só porque eu poderia; só porque eu teria esse poder selvagem.

o sol faz isso. age implacável sobre quem está abaixo dele, na praia. agiu sobre mim. "insolei". o corpo todo, mas um pouco da sua quentura se alojou mais vigorosamente na parte posterior de minhas coxas. o ardor ainda persiste, embora menos intenso. senti seu calor como pedras quentes cozendo minha pele; como se se amalgamasse ao meu couro, ao mesmo tempo em que ele se desfaz no inferno vermelho localizado. dói. digo que jamais voltarei à praia e que toda a areia que há nela poderia ser substituída pelo porcelanato que está presente no chão das casas burguesas. é muito chique, fresco, limpo. eu não sou chique, fresca, limpa. mas assim me vingaria dela.

tiraria um pouco de sua beleza primitiva e colocaria no lugar um pedra sintética, lisa, brilhante, chique, fresca e limpa. que tipo de pessoa uma atitude como essa me tornaria? o tipo do qual o sol se vinga, torrando.

sábado, 16 de janeiro de 2021

sobre a segunda sessão

quando desci do carro foi que percebi que o havia estacionado muito longe da calçada, para variar. eu já estava um minuto atrasada, mas minha falta de habilidade precisava ser corrigida. entrei no carro novamente e manobrei - ele continuou mal parado, mas estava um pouco menos no meio da rua - eu disse foda-se e fui adiante. achei que não tinha tempo a perder, mas receio tê-lo perdido de qualquer forma, já lá, sentadinha na cadeira de couro sintético que grudava nas minhas costas por causa do calor. 

eu falei, falei e falei mais um pouco do quanto tinha se desvanecido aquela figura da minha mente - um mês atrás, quando comecei em uma sessão solitária pré-natal e sem qualquer efeito positivo, queria saber por que diabos depois de mais de seis meses de fósforo queimado, eu continuava insistindo no que existia somente na minha cabeça? falei de pai e de mãe, chorei sob a máscara - o que é um verdadeiro horror, e não cheguei no que achava que me consumia.

então, hoje, já me consumia por outra figura, uma que há muito me atormenta: eu mesma. não está fora, Karla, está dentro, como sempre. entenda esta merda de uma vez por todas! saí da sessão tão frustrada quanto entrei e foi só a segunda. acho que não gosto do meu analista. interaja comigo, por favor, me provoque! em quarenta e cinco minutos só consegui sentir angústia e alguma paz de leve observando as nuvens rosadas pela janela aberta. o som dos pássaros junto ao som da vida acontecendo pela rua era de alguma forma reconfortante. ainda na poltrona de napa vagabunda, recostei a cabeça sobre ela, quase contemplando minha perda de tempo enquanto pensava em tudo e em nada juntos.

na frente do prédio acendi um cigarro que parecia não querer estar aceso. fumei-o a contragosto, não meu, mas do próprio cigarro. entrei no carro e não quis voltar para casa. não gosto de não querer voltar pra casa. dirigi pacientemente enquanto os automóveis se enfileiravam à minha frente. a noite estava finalmente surgindo e fitei a lua. não estava grande nem nada. era apenas um pequeno pedaço dela. um pequeno pedaço brilhante e amarelo. a lua parecia a unha do polegar de um violeiro, daqueles que fumam cigarros de palha à beira do lago em noites de lua como esta. acrescento à noite o som das cigarras e dos pernilongos confiados que nos comem as pernas enquanto os esconjuramos.

mais um dia passou. já é sábado.


domingo, 10 de janeiro de 2021

sobre os encontros




no encontro, passamos os dois pela mesma porta, cada um vindo de um lado diferente dela. eu no meu mundo - dentro -, você no seu mundo - fora. não só porque vem de fora, mas porque não sou eu. é só no pequeno espaço da soleira da porta que se dá a reunião, sempre breve. você toca na aldrava da minha porta e eu permito que entre. vem, senta aqui comigo. olha só como é a vida que levo. o que é que quer ver? eu mostro. vê o amontoado de coisas que posso te mostrar; tudo meio confuso, meio misturado, meio raso, meio fundo.

olha aqui, no espelho, enquanto me fode, enquanto molhamos a cama de suor, enquanto o encontro não acaba. olha todas as demais dimensões e camadas que se dão ainda na piscina infantil, com a água batendo nos joelhos, clara; ainda consigo ver meus pés, é seguro. na fossa das Marianas ninguém se arrisca a mergulhar. molhar a cabeça pode ser perigoso. aqueles peixes horrorosos e brilhantes estão lá embaixo, como vagalumes do mar. tem certo encanto nisso, não tem? nossos pequenos demônios que carregam a feiúra dos nossos males, mas que têm sobre suas cabeças uma lanterninha cintilante mostrando que a despeito de serem feios e amedrontadores, têm que ser vistos e, no fim das contas, são menos piores do que imaginávamos que fossem.

tem certo encanto na surpresa aterrorizante da apnéia. por quanto tempo você suporta ficar sem ar? até onde consegue ir sem se afogar? ninguém quer ficar azul no encontro. só queremos passar pela porta, tê-lo. convido que entre em mim, no meu mundo. se joga, então, até onde conseguir. te encontro no meio termo, no meio do caminho, onde ainda conseguimos ver a nós mesmos sem perder a claridade do sol. sem que a água fique turva pela falta de luz, pela profundidade. sem que possas conhecer a sombra que só pode ver quem vai mais fundo no salto.

 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

sobre a noite passada



Para pensar ouvindo silence - Portishead

Esteja alerta para as regras dos três
O que você dá retornará para você
Essa lição, você tem que aprender
Você só ganha o que você merece

Tempted in our minds
Tormented inside, lie
Wounded and afraid
Inside my head
Falling through changes

Did you know when you lost?
Did you know when I wanted?
Did you know what I lost?
Do you know what I wanted?

Empty in our hearts
Crying out in silence
Wandered out of reach
Too far to speak
Drifting, unable

Did you know when you lost?
Did you know when I wanted?
Did you know what I lost?
Do you know what I wanted?

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

somethin' stupid - Frank Sinatra


I know I stand in line
Until you think you have the time
To spend an evening with me
And if we go some place to dance
I know that there's a chance
You won't be leaving with me

Then afterwards we drop into a quiet little place
And have a drink or two
And then I go and spoil it all
By saying somethin' stupid like, "I love you"

I can see it in your eyes
That you despise the same old lies
You heard the night before
And though it's just a line to you
For me it's true
And never seemed so right before

I practice every day
To find some clever lines to say
To make the meaning come through
But then I think I'll wait
Until the evening gets late
And I'm alone with you

The time is right, your perfume fills my head
The stars get red, and, oh, the night's so blue
And then I go and spoil it all
By saying somethin' stupid like, "I love you"

The time is right, your perfume fills my head
The stars get red, and, oh, the night's so blue
And then I go and spoil it all
By saying somethin' stupid like, "I love you"

"I love you"
"I love you"
"I love you"
"I love you"

https://www.youtube.com/watch?v=0f48fpoSEPU