sábado, 29 de setembro de 2012

Balão leve e cheio

Nu, vem ele flutuando na nuvem escura, trazendo chuva para a tarde de prima Vera.

Escrevi esse versinho anteontem, à tarde, na cama, enquanto olhava pela janela as nuvens que passavam no céu. Acho que as nuvens mais bonitas são aquelas meio negras que passam em frente ao sol, tapando-o e deixando num branco muito glacial as suas bordas. Quase me cegam, mas não tem como não olhar.


Olhei pela janela e quis escrever; não foi grande coisa, mas na hora em que li, fiquei feliz. Sabe feliz? Daí eu disse que escrever me deixava feliz, e foi como uma brasinha brilhando vermelha dentro do meu coração apertado. Eu senti que precisava escrever, seja lá o que fosse, mas não saiu mais nada.


Ontem, passei quase o dia todo dormindo, sonhando, e quando acordava sentia o corpo todo doer de ficar tanto tempo deitada. Uma insatisfação gigante dentro de mim, que me ocupa toda. Sinto que estou cada dia mais vazia, cada dia mais distante de ser quem eu já fui.


Acho que escrever me alivia, mas acho também que gosto muito de sofrer porque evito escrever com todas as minhas forças. Não tenho nada pra dizer pra ninguém, mas talvez só quem precise ouvir alguma coisa seja eu mesma, sobre mim mesma, sobre o que faço comigo todos os dias, levando essa vida nas costas que de tão vazia se torna um balão pesado de coisas ruins.


Eu já fui feliz, mas perdi a pista desse caminho aqui dentro. Uma dor, um peso gigante de angústia e ansiedade que não sei onde enfiar. Ando chorona, mais que de costume. Me entupindo de comida, novela, fofocas sobre pessoas estúpidas e filmes de terror péssimos.


Não fazem mesmo mais filmes de terror como antigamente, mas eu insisto em assisti-los, mesmo sabendo que serão uma porra de uma piada. Não sinto prazer de verdade com coisa nenhuma. Faço o que devo, enrolo no que posso e vou levando com a barriga que fica cada dia maior. Já disse que estou me enchendo de coisas externas pra tentar aplacar o me faz sentir vazia, né?


Só queria saber qual é o meu problema. Será que algum remédio me resolve? Será que uma surra dá conta de mim? Será que com o tempo passa ou vai piorar? Será? E choro. 


Passei a tarde toda chorando pro meu analista e ele disse que não tinha problema d'eu chorar ali com ele, mas nem lencinhos ele tem pra oferecer, então fico toda ranhenta na sessão, mas o que importa é que posso chorar. Será que é só dor que tem em mim? Tem que ser muita dor pra saírem tantas lágrimas, mas se alguém me pergunta por que eu tô chorando, não sei dizer.


Quase explodo de tanto sentir tudo e não sentir nada. Vida de merda a que eu carrego dentro de mim; e pode ser que amanhã tudo mude e que eu não sinta mais nada disso e esteja dando pulinhos por aí.