terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Sobre ser/estar viciada em um telefone

Não sei bem quando foi que o telefone, que hoje é muito mais do que isso, se tornou uma praga na minha vida. Antes dele ser um smartphone, o legal era ter um super plano para poder falar com todo mundo e mandar muitos sms. Eu era mais feliz nessa época... Quando comprei meu primeiro smartphone foi pra não ficar pra trás, vejam só. Na transição entre os telefones que não faziam mais do que ligações e mandavam mensagens para os que tinham tantos recursos que não permitiam que as baterias durassem mais do que um dia, eu me perdi.

A obsolescência programada bombou na minha vida naquele tempo. Se por acaso, você não souber o que é isso, eu explico: a obsolescência programada é uma ferramenta que o sistema capitalista desenvolveu para garantir que as pessoas nunca parem de consumir. Para isso, a indústria produz produtos que duram cada vez menos e, com a ajuda da propaganda, criam a ilusão de que você precisa de um novo telefone (ou qualquer outra coisa) porque o novo modelo tem mais recursos do que o anterior e a tela do seu telefone quebrou mesmo, e você sabe que só uma tela nova é quase o preço de um aparelho novo, então é melhor trocar... daí você vê as pessoas mais descoladas do instagramzzz usando alguma coisa nova e você também quer aquela coisa nova porque, né? Ter é poder! Mas isso é assunto para outro post. Pra encerrar isso, apenas recomendo que assistam a este vídeo sobre o assunto: A história secreta da obsolescência programada.

Ainda assim, o mercado está aí pra nos fazer querer o objeto e isso já é bem ruim, considerando as consequências do nosso consumo desenfreado para o planeta, mas a cagada não para nisso. Ela é muito maior, porque não basta ter o smartphone, você tem que participar de todas as redes sociais que mantêm você com a cara na tela 24/7.

Antes, eu tinha o facebookson, o twitterson e o instagramzzz no meu telefone. Era viciada nessas porras todas; passava o dia todo malhando o dedo no feed. Lia um livro? Não. Dava uma faxinada na casa? Não. Meditava? Não. Caminhadinha no final da tarde? Porra nenhuma! Era só em função dessas merdas. Lendo gente que só falava besteira, vendo foto de felicidade de mentira e eu também estava no meio disso, querendo mostrar um pouquinho do quanto eu era feliz e de como a minha vida era boa; só tinha um detalhe: eu não estava vivendo a minha vida. Tava na porra do telefone!

Tirei do meu telefone o facebookson, o twitterson - que me divertia muito por causa dos baphões - e o instagramzzz. Mas de vez em quando ainda espio coisas nessas redes, o que me faz pensar que a adicção é mesmo uma parada sem cura. Principalmente porque você não deixa de ter um vício, você apenas o troca por outro. No meu caso, Youtubz e portais de notícias. E eu continuo na merda!!! Não tenho controle da minha vida. Acesso os portais de notícias - globo e uol - pelo menos três ou quatro vezes por dia -, faço vários quizzes do buzzfeed - sim, eu sou essa pessoa que sustenta aquele bando de gente que cria um "conteúdo" de merda... e o Youtubz... nossa! Minha vida é assistir vídeos enquanto lavo a louça, enquanto vou ao banheiro, enquanto faço qualquer coisa.

Eu não consigo mais ficar sozinha comigo mesma sem ter o telefone do meu lado pra me "preencher", sendo que eu só me sinto cada vez mais vazia. Fico ansiosa quando não estou vendo algum vídeo ou lendo alguma notícia. Mas me pergunta se eu tento aplacar a ansiedade fazendo alguma coisa útil? Não. Sabe o que eu faço? Eu como. Eu penso nas coisas que eu deveria fazer por compromisso ou obrigação e daí eu como. Eu penso nas coisas que poderia fazer por prazer e daí eu como. Comer me dá um prazer que já vem instantaneamente acompanhado de culpa, de arrependimento, de vontade de desaparecer da face da terra.

Perdi o controle da minha vida. Perdi minha capacidade de discernimento quando permiti que um aparelho eletrônico virasse a válvula de escape pra eu fugir da minha vida e das minhas responsabilidades e é tão claro o mal que isso me faz que eu sequer consigo curtir plenamente os momentos em que eu estou anestesiada. Claro que não é só isso, claro que a tecnologia é também maravilhosa e facilitadora da nossa vida, mas se por acaso, você tem se sentido como eu, com uma agitação no peito, uma angústia que não passa, uma ansiedade que só para quando a tela é ligada e quando ela é desligada você procrastina suas tarefas para ligá-la de novo, então, meu amigo, você está fodido como eu.

Somos adictos da tecnologia e isso não é nenhum mérito. Por que é que é sempre mais fácil gostar do que nos faz mal do que das coisas que nos fazem bem? Não sei. Vou tentar descobrir e depois eu volto pra contar. Talvez eu ache a resposta no Goooooogle, vai saber.