terça-feira, 19 de novembro de 2019

sobre ser ridículo

o ridículo é aquele que é risível, mas não porque é engraçado; por escárnio. mais ridículo que o próprio é quem o julga. o ridículo não o teme ser. ele não consegue entrar nas gavetas da norma, da regra, da convenção. a própria vida nos leva a ser ridículos. os amantes são ridículos, assim como o amor que os origina. a exacerbação, o espalhafato, o sentimentalismo e o excesso de maneiras, de cores, a liberdade assim o tornam. gosto de ser ridícula porque choca, porque não esperam, porque quem cabe em caixas não quer sair de dentro delas e aponta dedos, lança olhares. o ridículo enxerga além, vê beleza na loucura, no ponto cego, no que está perdido... perdido, aquilo que não tem direção, que não sabe pra onde ir e só vai (ou estanca), vai sem receio, levado pela brisa leve da incerteza. ser ridículo é não ter medo de errar, é fazer mesmo sabendo que tudo pode se desfazer, que a dor pode chegar, que o encantamento pode acabar, que os quereres podem se transformar, que os caminhos podem se distanciar, que a vida pode ter outros planos. às vezes não quero; ser ridículo é uma merda. bancar o ridículo, fazer o papel ridículo. às vezes me envergonho; outras me regozijo. às vezes, num surto, é só o quero ser: RI-DÍ-CU-LA.


terça-feira, 5 de novembro de 2019

faz três dias que meu corpo dói. sinto como se tivessem me ateado fogo. minha pele dói, minha espinha urra, minha cabeça dilacera, minha nuca arde. as vontades se desfazem todas em suor durante a noite, quando me reviro, me reviro, me viro. a coberta me esquenta e me agonia, mas não consigo ficar sem ela. a dor se intensifica ou é amenizada pela posição fetal em que me encontro. vai passar, não vai? quando fecho os olhos, as palavras vêm como em um teleprompter acelerado. não dou conta de lê-las, de interpretá-las, de entendê-las. elas vêm me atropelando, marcadas em negrito e eu sequer consigo... me tonteiam, e seguem sem parar, noite adentro, me enojando, me fazendo sentir maluca, como se o sonho metalinguístico não fosse acabar nunca. por favor, tira-me daqui. acorda-me porque não quero mais dormir.