quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Solidão

Pensei na praia, na forte claridade; o céu azul, o vento fresco que vinha como um pequeno sussurro... Deitada na areia, com o chapéu sobre o meu rosto, sentia os minúsculos grãos dando leves batidinhas contra minha pele. Pelas frestas da palha, conseguia vê-la brincando no riozinho que passava em frente a mim.
O silêncio do mar é inebriante.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O tema preferido

A morte sempre foi uma inspiração à minha escrita. Falar sobre ela, sobre o apodrecimento da matéria é algo que me excita e, ao mesmo tempo, me mostra como somos frágeis diante de qualquer coisa.
Nosso corpo funciona magnificamente, até que ele padece. Basta cair de mau jeito e bater a cabeça, pronto, você pode ter um traumatismo craniano e sangrar até morrer. Se você tiver uma diarreia ou uma gripe muito forte e não se cuidar, pode acabar morrendo.
Somos tão frágeis quanto formigas. A qualquer momento podemos ser esmagados pela vida, pelo tempo, pelas nossas atitudes e escolhas.
Particularmente, gosto das mortes brutas. A ânsia ao ver um corpo transformado numa massa sangrenta é algo repulsivo, mas que traz enorme reflexão e vazio. Corpos mutilados, estripados, aniquilados, degolados mostram que não somos nada.
Por muito tempo tive um sonho repetitivo em que duas moças eram atropeladas por um carro e seus corpos não eram mais do que um amontoado de carne grudada ao asfalto. Via com detalhes as formas asquerosas de seus órgãos estourados , a carne vermelha; cabeças esmagadas, olhos saltados, cabelos junto a secreções e ossos esmigalhados. Perdi a conta de quantas vezes as vi. Havia repulsa, mas havia algo maior que eu não saberia descrever, mas que a morte delas queria me mostrar.

Depois desse sonho, tive um outro, igualmente incômodo, mas que envolvia muito mais gente. Sonhava que estava às voltas do hospital da cidade onde cresci, e quando lá entrava, nossa! Era como um açougue, pois havia corpos por todos os lados, que haviam sofrido as mais diversas dores. Havia sangue pelo chão, enfermeiros que pareciam não ligar para a situação, e os corpos amontoados em salas esparsas que eu podia ver, andando pelos corredores do lugar.
Sinto angústia por sonhar com isso, mas não tenho medo. Estão mortos. Apesar disso, quando via que o sonho ia se encaminhar novamente para o hospital que eu já vira outras vezes, me indagava por que estava sonhando com aquilo de novo. Não tenho respostas.
Às vezes me imagino morta da forma mais aterradora que eu possa... Tenho a impressão de que uma morte estúpida e grosseira é muito mais real do que aquela que acontece num leito de hospital. Pra ela ser de verdade, os bombeiros têm que catar você do asfalto com a ajuda de uma pá, e reclamar um pro outro: “Odeio meu trabalho”.
Morrer faz sujeira, pois somos imundos por dentro, somos apenas um monte de excremento ambulante, até que viremos novamente excremento embaixo da terra, ou de uma carro, ou de uma ponte.
Morrer parece ser um alívio tão grande... Mas só os torpes conseguem, só os covardes conseguem a morte gloriosa.