quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

sobre o que me faz gozar

no famigerado aplicativo de paquera - sim, sou antiga -, escrevi no meu perfil: 

"buscando um encontro que faça sentido; que não seja cretino, que me faça rir e que me faça gozar."

"eu arroto no primeiro encontro, e em todos os outros."

vamos, então, por partes. o que é um encontro que faz sentido? é daqueles que na conversa já me interessam minimamente. faz sentido falar sobre a chuva que não passa, sobre o governo bosta que temos, sobre novas abordagens do "oi, tudo bem?"... muita coisa pode fazer sentido ou não.

os super espertos e engraçadões me dizem que são capazes de me fazer rir e gozar, logo assim, de cara. já sei que se trata dos cretinos. sabe o que me faz gozar além de uma boa foda? gente bem-humorada, mas não idiota; homem que sabe rir de si mesmo e que entende uma ironia sem que eu precise desenhá-la. homem que se abre, que fala dos seus problemas, que mostra fragilidade. que fala da família, dos filhos, da ex. eu quero conhecer a pessoa! me fala de você! eu tô fazendo faxina agora; acabei de comer a sobra do almoço; meu dia foi uma merda; tem uma vazamento no meu banheiro... às vezes a conversa envereda para perdas e para as expectativas de vida, vai por labirintos e portas e eu não faço ideia nem do seu sobrenome, mas tô entretida, quero conhecer você. às vezes, fazemos encenações bobas, mas divertidas. é troca; você mostra um pouco de você e eu mostro um pouco de mim, mas por favor, que vá sempre mais além.

sobre os arrotos, não, eles não são piada; não são pra chamar atenção, não me tornam a diferentona porque você também arrota. os arrotos no perfil servem pra dizer que eu não faço média, que eu não perco mais tempo fazendo de conta, que eu não tô a fim de te impressionar positivamente. eles querem dizer que essa é a minha maneira de mostrar que eu sou de verdade e que se você não curtir, desculpe, mas quem perde não sou eu porque a despeito de todos os meus defeitos, eu sou uma mulher foda e se você não tem estrutura pra lidar com isso, beijo!

eu não quero saber do seu carro, da sua casa, do seu super emprego, foda-se; também tenho tudo isso. não quero saber das viagens que você já fez, nem das suas fotos sem camisa mostrando o seu corpo super sarado, foda-se. eu quero vínculo, quero relação. isso não quer dizer namoro necessariamente, muito menos casamento. mas eu quero alguém que tenha disposição para o mesmo que eu. quero quem se interesse, quem proponha. e não falo de grandes proposições, não. poxa, vamos sair pra conversar? tá de bobeira aí? então vamos no mercado comprar umas coisas pra cozinhar? vamos assistir um filme? vamos só ficar de boa, ouvindo uma música e curtindo a companhia um do outro?

eu, sinceramente, não sei o que os homens esperam desse tipo de aplicativo - além de uma foda fácil - e veja, não me queixo disso. só sair e transar pode ser ótimo, mas definitivamente não é o meu objetivo. e você pode dizer: ué, mas é só o que você vai encontrar, e eu discordo. cara, a gente vive conectado nessas porras de smartphones. faz muito tempo que aplicativos de encontros são só mais uma forma de conhecer pessoas, como um bar ou uma balada. Mas, como esses ambientes nunca foram muito a minha realidade, me vejo um tanto limitada, ainda mais em tempos de pandemia... 

a questão é: não espere que eu corresponda porque você começou a me seguir no instagram e curtiu todas as fotos em que eu estou pelada. vá à merda! como já dito em sobre o corpo, um corpo é a merda de um corpo e se o que te interessa em mim é a minha forma, sai fora. eu sou linda? sou. gostosa? pra caralho! não espere confete por me dizer o óbvio ululante. vem saber de mim, do que eu gosto, o que eu quero, o que eu penso, daí sim a gente vai poder conversar. 

os melhores momentos que tive por intermédio desse aplicativo foram ter, por exemplo, um homem na minha casa, sábado à tarde, lavando o meu banheiro. tem noção do que é isso? é isso que eu espero do tinder. não um empregadinho - o que não é tão má ideia -, mas iniciativa, sabe? nossa, esse banheiro tá precisando de uma limpeza e eu digo: meu bem, vou pegar os instrumentos necessários pra que esse banheiro fique limpo. e daí o cara vai lá e lava o recinto de cima abaixo. isso não é absolutamente maravilhoso? e faz isso com graça, enquanto eu fico na cama dando ordens. isso quer dizer que eu sou uma vadia? ora, claro que não. isso é troca. 

o melhor dos mundos no tinder seria, para mim, conversar sobre o absurdo da vida, assistir documentários e filmes e realmente falar sobre o que eles nos suscitam, provar oito drinques diferentes em uma noite, transar no carro por quase uma hora ininterrupta, sentar na lagoa e ficar olhando os carros passarem, feito dois idiotas; encontrar meus melhores amigos, ao acaso, no primeiro encontro, e me juntar a eles sem a preocupação de que não se faz isso no primeiro encontro. o melhor dos mundos é fazer tudo isso e no fim das contas dormir juntos, roçando os pés e querendo fazer de novo. isso é o que me faz gozar.

p.s.: intimidade; eu me esqueci da intimidade, mas ela também é uma grande fonte de gozo.

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