quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

sobre mais uma primeira sessão

estou nauseada. a porrada de hoje foi ainda maior do que a de ontem. ah, ontem não teve bem uma porrada. ontem havia plantas, cristais e cheiro bom que não me lembro qual era, mas era bom. ontem tive meu ego inflado enquanto pensava que logo estaria no divã. o caso nem é esse, foda-se quando ficarei olhando para o teto ao mesmo tempo em que vomito tudo o que preciso e me engasgo com as minhas próprias palavras.

hoje havia livros e livros e livros e até um bonequinho do Freud (?) na sala. acho que o analista é meio nerd e a sala tem cheiro de desinfetante barato ou de naftalina, não sei ao certo. vi Freud e vi Lacan. será que ele empresta os livros dele? a primeira impressão entre eles foi a de que eu queria o primeiro date, o de ontem, e sei exatamente o que tô fazendo aqui comparando o analista a um cara do tinder... as possibilidades são infinitas e a gente sempre pode encontrar um melhor, então pra quê sossegar no primeiro? que diabos! eu gostei do primeiro, mas o segundo, ele me machucou de verdade, então acho que vou ficar com ele.

o primeiro parece mais fácil, mais bonito, mais apresentável e não me refiro à pessoa - que fique claro, mas a todo o contexto. eu poderia ficar com ele porque parece mais conveniente, mas eu gosto mesmo do que me fere, do que me desestabiliza. foi demais pra mim, denso. foi uma enxurrada de coisas e tô me secando até agora, que inferno!

ontem, saí da sessão quase feliz. hoje, depois de chorar sob a máscara mais uma vez - graças à minha mãe - saí da sessão triste, doída e agora tô chorando de novo porque a gente acha que o problema são as relações de agora, mas oh, que grande surpresa pra mim, descobri, falei e comecei a chorar: o lance é a minha mãe e eu pequena, lá atrás. fui desmascarada por mim mesma na frente do grilo falante. minha mãe me dilacerando de novo e eu nem sabia do que precisava, mas era de amor. minha criança ali, fodida, e eu vejo que eu sou uma fraude, que todas as minhas grandes certezas sobre o que eu poderia esperar dela e que estão bem aqui no meu consciente, gritando comigo, podem até funcionar pra Karla de 36 anos, mas pra Karlinha, praquela menina, não querem dizer nada porque a sensação de falta, de abandono e de necessidade de aprovação e validação ainda estão aqui.

meu buraco é minha mãe e nem sequer tocamos no meu pai. durante muito tempo eu busquei nos caras o amor do meu pai e só encontrei nada. minhas faltas, meus vazios, eu achava que era o meu pai que eu queria e talvez seja, também seja. eu queria os dois e agora soluço chorando porque me veio à cabeça uma das visões mais significativas que já tive quando fumei salvia. nela, eu era pequena e meus pais vinham, cada um segurando uma de minhas mãos e caminhávamos felizes sob um céu amarelo. era algo como uma cúpula amarela, uma bolha e nós estávamos lá dentro. eu estava ali com meus amores primordiais, protegida, amparada, segura. eu era amada; na minha visão eles me amavam, eles amavam aquela criança. era o ideal de amor. era felicidade, era plenitude, era tudo o que aquela criança precisava. isso aconteceu há quase dez anos e voltou, emergiu em mim hoje. não que eu tivesse esquecido, é que hoje fez mais sentido do que nunca. eu sempre usei os alucinógenos esperando ter uma expansão de consciência, buscando entender o que tinha de mais profundo e escondido em mim e esteve ali o tempo todo desde então, eu só não entendia, mas agora eu vejo.

acabei de me jogar; vou experimentar então e ver o quão fundo eu consigo ir. desejem-me sorte porque eu sei que vai doer, mas vai me desenrolar, vai me deixar livre e eu vou poder transitar melhor entre o meu raso e as minhas profundezas, como eu sempre quis.



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