cabeça com cabeça; não pode haver um buraco entre os travesseiros porque elas rolam pelo macio durante a noite, nos sonhos, enquanto estamos cada um no seu universo inacessível, mesmo de mãos dadas, mesmo juntos nos despedimos na hora de dormir, porque nesse momento cada um vai pra um lugar, que nunca sabemos onde fica, nem com quem vamos nos encontrar. mesmo lado a lado, nos deixamos. outro dia, pegamos um avião e fomos para a China. caminhos e caminhos para chegarmos até o aeroporto. depois, malas e guichês; escadas rolantes e salas de embarque. nos meus sonhos os aviões têm um quê de ônibus espaciais... voamos e chegamos ao destino. muitos turistas, ruas cheias e paisagens novas. eu busco por um perfume; estou sempre atrás de um cheiro a mais para a minha coleção de lembranças.
o sonho acaba porque acordo. volto da minha viagem; você, da sua. dessa vez, me lembrei, mas nem sempre sei para onde fui ou o que aconteceu. fica ali, perdido na viagem inconsciente. às vezes, no meio do dia, alguma coisa corriqueira que acontece traz à tona e me recordo. é como um déjà vu. a coluna estala, a escápula dói. nos olhamos, nos cumprimentamos, perguntamos como foi a noite; o sonho impenetrável até pra gente mesmo. penso nos grunhidos que faço quando me espreguiço feito um gato; penso nos gemidos gostosos que dou quando como uma comida muito boa.
nos levantamos e tomamos banho. tomamos café. nos despedimos porque é só segunda-feira ainda. suspiro quando você vai embora. volto à sala de embarque que é a minha cama, pensando que poderia viajar novamente, mas a vida urge porque é só segunda-feira ainda. último dia de férias; gemo.
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