segunda-feira, 22 de março de 2021

sobre não haver garantias

joga fora o que tinha escrito antes, apaga. tudo confuso, emaranhado. é complicado explicar a ansiedade que não é a mesma da pessoa que vive em constante estado de alerta, não é disso que tô falando. não acho que vou infartar ou morrer, mas meu coração está aos saltos dentro do peito. o estômago congelado, difícil de ligar os pontos entre as vísceras. não estão concatenando as sensações. odeio não conseguir expressar. - fala! - eu penso, mas não sei o que dizer. oscilo entre a aflição e um breve estado de plenitude. não sei se o chão se abriu sob os meus pés ou se fui eu que subi em um altíssimo prédio e me joguei, mas sinto que estou em queda livre. não sei quão perto estou de chegar ao chão de novo, mas sinto algum conforto de saber que não posso ultrapassá-lo uma vez que nele esteja; esborrachada talvez.

quem sabe seja sempre como um passeio em uma montanha-russa. você vê o brinquedo no parque e ele parece ser o mais excitante entre todos. todas as subidas, descidas, loopings e curvas. você, então, entra na fila e descobre que ela é grande, exige espera, paciência e, enquanto sua vez não chega, você fantasia e já sente toda a sorte de reviravoltas na barriga. quando você percebe que é o próximo, pode pensar em desistir da aventura ou pode escolher sentar no primeiro carrinho. vai da coragem do passageiro. enquanto você sobe bem devagar e protegido em seu assento, pensa que nunca deveria ter sentado nele, na medida em que se vê cada vez mais distante de onde seus pés pisam. eu não falei, mas nessa montanha-russa, seus pés estão suspensos; você flutua e não sabe dizer se isso é bom ou não. 

a subida é lenta e gradual e você quase para quando chega no ponto mais alto, quando em um milésimo de segundo, pensa: - hm, acho que poderia ficar aqui mesmo, não quero ir adiante e, apesar de muito alto, aqui não parece tão aterrorizante... antes que finalize a linha de raciocínio, você é lançado trilhos abaixo, em toda a velocidade, ao mesmo tempo em que tem a sensação de morte e de desespero, da total falta de controle porque você só está ali - não há como fugir e tudo, tudo, tudo e qualquer coisa pode acontecer, inclusive nada. quando você consegue se entregar às engrenagens do brinquedo é que entra na brincadeira, é que se satisfaz com ela. só quando você entende que está tudo bem é que consegue gozar e aproveitar o passeio, e é só quando o passeio termina que você percebe que poderia fazê-lo de novo, mais vezes, se seu coração aguentar. 

montanhas-russas têm um risco calculado; são seguras. é fácil quando você sabe que mesmo sentindo todas as emoções ali, você vai sair inteiro no final das contas. a parte não divertida da vida é saber que andamos em montanhas-russas que foram construídas por outras pessoas quaisquer. ninguém é especialista em montanhas-russas. na vida, vemos os parques de todo mundo, andamos em carrosséis sem graça nenhuma; dirigimos carrinhos-de-choque, nos assustamos nos trens-fantasmas, nos empapuçamos com algodão-doce e maçãs-do-amor, mas o que a gente quer mesmo é dar uma volta na montanha-russa. a grande questão é que não há garantia de nada. se você vai chegar intacto no final do passeio, só saberá depois que ele começar. 

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