quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

sobre estar aberta a ser fodida pela vida - mas com amor

não tem muito sentido, nada tem sentido, a menos que coloquemos sobre qualquer coisa a intenção do sentir. não é nada muito lírico, nem bonito e nem poético. passaram os dias com a noite especial abarrotada de comida boa e os farofeiros tiveram três (!) variedades de farofa para se empapuçarem. a gente come, se embriaga, ri e ouve músicas ruins com um sentimento de nostalgia sem igual. nos embalamos e nos nauseamos; dormimos e comemos sobras, muitas delas. nos frustramos com a sobremesa que não era doce o bastante, não era saborosa o bastante, não tinha gosto de nada. o nada sempre nos desaponta. queremos sentir a doçura; melhor é o açúcar queimando a garganta do que a apatia do bege sem sabor. melhor se foder com gosto do que estar afundada na cama.

depois da interação com um número maior de pessoas do que de hábito, me sinto letárgica, cansada. gosto mesmo é de ficar afundada na cama. mesmo que o dia esteja azul, mesmo que a rua chame... me olho no espelho e fico assustada com minhas olheiras, parecem cada dia maiores, não importa quantas horas eu durma. concluo, então, que melhor mesmo é se foder com gosto.

quero que a vida me foda assim, como quem não quer nada, como foi da última vez. andando pela calçada, no frio, depois da meia-noite; mas desta vez, por favor, que além de me foder, me ame.

para ler ouvindo: gente aberta - Erasmo Carlos

domingo, 20 de dezembro de 2020

time moves slow - badbadnotgood




I found you at the window again

Looking out, watching the leaves falling in

And it was something like a dream

Wow so perfect, couldn't talk to me


Time moves slow

When you're all alone

And the time moves slow

When you're out on your own

And the time moves slow

When you're missing a friend

And the time moves slow

When you came to the end


Running away is easy

It's the leaving that's hard

Running away is easy

Running away is easy

It's the living that's hard

And loving you was easy

It was you leaving that scarred


But what was I to do?

Just couldn't help myself falling in love with you

And what could I say?

Oh, if I had another chance

To make you stay

Cause when you ran away

I knew just what you were thinking that day

You just didn't love me like I do

Like I love you

The sad thing is we're better off this way


Time moves slow

When you can't have a thing

Time moves slow

When you're lost in the dream

Time moves slow

When you wait by the phone

And the time moves slow

When you're all alone


To run away is easy

It's the leaving that's hard

Running away is easy

Running away is easy

It's the living that's hard

And loving you was easy

It was you leaving that scarred


Cause when you're so alone

Time moves slow

When you're so alone

Time moves slow

When you're so alone

Time moves slow

Time moves slow


https://www.youtube.com/watch?v=UWIIPX_5rbM
 

domingo, 13 de dezembro de 2020

sobre o que passou


para mim, este ano começou comigo acordando num sofá, cheia de areia. passara o dia anterior bebendo, fumando maconha e transando com alguns intervalos de tempo ao longo daquele dia. estava quente como hoje. eu estava feliz. fomos à praia para ver os fogos, já cambaleantes. antes de chegar lá, já era meia-noite. ouvíamos os estampidos de comemoração. tiramos a espumante da minha mochila e voltamos a beber despejando-a em uma caneca de acrílico. em frente a um canteiro de lavandas, coloquei algumas no decote do meu vestido. tinha uma flor amarela no cabelo. seguimos. passando pela pequena trilha, vi no breu as dunas. cruzamos com outras pessoas. ali fiquei. deitei sobre a areia e não consegui me mover pelos próximos quarenta minutos (?). - Babe, vamos - ele dizia. minha cabeça só girava e eu me sentia confortável sobre a areia fria.

quando, finalmente, consegui me levantar, fizemos o caminho de volta. eu estava feliz. na descida da rua, resolvi tirar meu vestido e fazer parte do percurso pelada, só porque me deu vontade. ele teve medo de que passasse alguém e me visse. coloquei o vestido de volta. depois disso, só me lembro de acordar com ele no sofá. não sei como chegamos em casa. não sei. mas eu estava feliz, antes de dormir e depois que acordei.

daquele dia tão distante para cá, a vida correu impassível, como sempre. os acontecimentos foram se dando diariamente, de toda a sorte. a vida veio em forma de morte, de espera, de dor. veio também como expectativa, como ansiedade, como frustração. a vida veio me empurrando até este momento, aqui e agora, em que suo no terceiro andar escrevendo. a vida veio se reverberando em separações, em novas vidas (serei tia de gêmeos!). a vida veio se adaptando por detrás de máscaras em público. só podemos nos ver no privado. no privado, em frente ao espelho, refletindo todo o peso de chegar até aqui.

conquistei e me exauri. fechei ciclos com muita dor, porque ainda queria estar no dia 31 de dezembro do ano passado. porque ainda carrego a nostalgia e a saudade do que foi idealizado. tantos véus me coloquei sobre a cabeça... todos eles tive que tirar para poder ver. enxergar que a vida acontece sem controle, enquanto o cigarro queima entre os meus dedos, enquanto durmo afogada nos meus sonhos. a brisa agradável da noite volta a me dar calafrios. os dias azuis e quentes me levam à praia, àquela, que era minha, mas é de todos e também de ninguém.

vê a vida, então, como um truque massivo que não nos deixa perceber que entre um grande acontecimento e outro, tudo parece irritantemente igual, ao passo que na verdade, o tempo nos consome a vida e é tudo diferente. somos constantemente atropelados pelos seus fatos. mesmo que ainda estejamos atrelados a um deles, logo vem outro e outro e outro. como ondas, os segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses e anos vão passando por cima de nós, levando-nos para as profundezas, mesmo quando o mar parece de calmaria. isso não existe. calmaria não existe. a vida está no caos, do qual eu tento escapar mesmo quando sou criadora do meu próprio.

quando a gente já perdeu demais, gosta de se agarrar às coisas, às pessoas ou, ao contrário, solta de vez pra não sentir que perdeu. quando a gente muda demais, gosta de se estabelecer ou, ao contrário, não para de mudar pra não se sentir estagnado. quando a gente ama demais, ama até se consumir no sentimento. a gente, no caso, sou eu. não é porque sou a apaixonada intensa - o que sou -, mas é porque sentir é o que move a gente. a gente sente tudo. eu sinto demais por vezes, e por vezes nada. sentir é melhor e dentre todos os sentimentos, amar é melhor, é sempre melhor.

mas é melhor quando o outro sente também. amar sozinho é um peso sem fim. é um inferno, que diante de todo o tempo de uma vida é pouco, mas enquanto se sente é sofrimento embaixo d'água. das piores coisas que há está a imersão na dor, mas ela serve pra alguma coisa, não serve? diga pra mim que sim, que logo consigo emergir da minha lama cheia de ar nos pulmões, na pulsão de vida de respirar, de continuar. 

então continuo, amparada pelos outros tantos amores que uma pessoa pode ter. enquanto alguns laços se desfazem, outros se apertam cada vez mais. um amor que se torna o melhor amigo, uma amiga que transcende a amizade, e o que é a amizade senão o tipo de amor mais genuíno que pode existir? ah, que secamos tanto as lágrimas uma da outra. que atendemos ao primeiro pedido de socorro. que refletimos juntas pensando em todas as possibilidades e impossibilidades da vida. amores assim sempre vale a pena serem vividos e eu os vivo. sigo sendo amada como posso, aberta sempre, mesmo que seja para o arrependimento porque a vida é campo de aprendizado. 

escorro como a chuva que bate na janela, me desfaço e me refaço. o que passou vira saudade do que foi e nostalgia do que poderia ter sido. corre o tempo demasiadamente rápido neste ano tão comprido e confuso. parece que faz anos, parece que foi ontem. pelo menos, não choro mais.


para ler ouvindo:

jewel box - Jeff Buckley





domingo, 6 de dezembro de 2020

sobre o que vem depois

é depois de amanhã. levei três anos pra dizer que é depois de amanhã, e agora que o dia chega não sinto nada além de esgotamento. meus braços já não têm mais veias pros anestésicos que me injeto todos os dias. o sono, a fome, as redes sociais que me sugam para dentro do telefone. a paranoia, os pensamentos acelerados, são o que têm me aplacado e me estancado. gosto muito das singelezas, elas me afetam, mas o espírito de felicidade desmedida e "good vibes only" ainda me dão engulhos.

sinto inveja do que está limpo e fácil porque a sujeira e o acúmulo me tomam. os pimentões abertos na fruteira lá ficaram por muitos dias. murcharam, sua água começou a pingar preta pelo chão, enquanto eles iam se desfazendo com o passar das horas, apodrecendo sob as minhas vistas. por que eu deixo? por que permito que as coisas se consumam, enquanto eu, na minha inércia, apenas permito e vejo a imundície se espalhar? me sinto presa, estática, empedrada e incapaz.

enraizei-me no chão mesmo me movendo, porque a mente diz que não consigo agir. ela me tolhe e fico em estupor. escondo-me sob as cobertas, mergulho nos sonhos que me aprazem; eles são sempre melhores do que estar acordada. os pedidos que fiz ao fogo se dissiparam nas cinzas do papel e volto pro lugar onde já estive tantas vezes, andando em círculos que desgastam meus pés, meus sapatos, o próprio terreno onde piso de novo e de novo e de novo.

eu deveria estar feliz, cheguei ao dia que pensei estar distante demais da minha capacidade, muito além do que imaginei poder e, prestes a vivê-lo, não sei de mais nada. segue a estrada, ela continua, mas não sei como caminhar por ela.