quarta-feira, 14 de outubro de 2020

sobre o processo


viver é processo. viver é um longo processo para a morte. a vida é a repetição mais ou menos igual de acontecimentos até que um dia eles param de acontecer; você morreu. esse é o jeito ruim e mecânico de ver a vida e, querer viver para além disso é se anestesiar com o cotidiano, com o trabalho, com as contas, com toda a demanda de consumo, de vícios, de dor e de perdas. de ego, de conquistas, de sol e de tropeços pelo meio do caminho.

essa noite foi péssima. a Chico entrou no cio de novo. miou com tudo madrugada adentro. meus sonhos foram povoados de miados. não havia palavras ditas, havia urros animais nos meus ouvidos, escritos, por toda a parte. minha análise de livros era miada. fiquei entre o susto e o horror com os sons. até o sonho em que eu tinha um caso com Robert De Niro foi atrapalhado, um inferno! era algo como um filme de mafiosos e estávamos dando uns malhos no sofá; eu só vestia uma calça e sutiã, e ele era jovem. nos pegávamos com vontade, até que alguém batia à porta, eu ia abrir e miaaauuu!!! gata empata foda!

me recolhi. preciso produzir. acho que preciso reconhecer que a ansiedade me toma, me imobiliza, me amarra e me deixa no canto da sala. penso em tudo o que preciso fazer e me sinto uma derrotada por não sair do lugar, mas veja, eu saí. digo a mim mesma e a todas que me habitam: olha, o processo é longo, dolorido e cheio de percalços, mas estamos avançando, acredite. os tempos são relativos e você não está competindo com ninguém de fora. a briga é dentro mesmo. um pouco mais a cada dia, com os atrasos da vida, mas estamos indo. deveriam ser dois anos, estamos em três, okay. você começou de um jeito e vai terminar de outro, isso é certo. começou casada e "sã". no que a vida foi se sucedendo, você teve uns probleminhas de saúde física: luxou o tornozelo bem feio; teve herpes-zóster e dores horríveis; teve uma hérnia cervical e dores lancinantes. teve uns probleminhas familiares: filha adolescente rebelde, mãe adolescente rebelde e mentalmente doente e uma separação. teve uns probleminhas mentais: umas duas crises de depressão quase incapacitantes. claro que não foi só ruim, foi também bom, muito bom. teve amor, reencontro, desencontros, amizade boa e quentinha e confiança. teve eu andando pelada pela rua e pela praia. teve choro e teve riso, esse é o processo. quando um desses caminhos todos chegar ao fim, e ele está quase lá, eu sinto que serei livre de mim mesma. não é o intelecto, não é por comparação, mas tenho que admitir pra mim mesma que sou foda, uma mulher do caralho, dentro da minha realidade, do meu universo. estamos todos pelejando internamente, combatendo medos e demônios. só quem está dentro sabe o que frustra e o que motiva. eu só sei de mim e você só sabe de você. a gente troca experiências, mas elas são só nossas. tô quase lá, nos vemos em breve.

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