segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

sobre morrer pela boca

estou ansiosa, não cabendo em mim. dizem que o peixe morre pelo boca; será que é por isso? falei demais, expressei demais? durante anos entrei em jogos de comunicação. muitas vezes me perdi neles, porque não sabia quando falar. elaborava longas respostas perfeitas para o confronto, mas elas sempre vinham tardiamente, quando já não fariam mais sentido. me perdia nos meus argumentos e, depois, quando dava por mim, me sentia pequena, feita de boba, me imaginando em uma catatonia que me impediria de articular o que estava tão claro em minha mente. perdia a "briga", o debate, a discussão. não falei o que deveria ou me expus demais, me coloquei em uma posição vulnerável, naquela em que o outro poderia fazer o que quisesse comigo.

não se tratava só de falar o que me incomodava; se tratava de falar tudo. do ruim e do bom. das borboletas no meu estômago, do peito saltando, dos sonhos felizes. o que eu posso fazer com isso? pra que falar, contar, tirar de dentro de mim se o que parece é que não dá, que não pode ser?

por isso, o melhor era que me fechasse na minha concha. não demonstrar fraqueza, nem interesse, nem preocupação, nem apreço, nem afeição. ser duro é ser forte, eu pensava. com o tempo (muito recentemente, na verdade) percebi que por mais que me mostrasse frágil, isso ainda era mais sensato do que ficar calada, com os dedos sobre a boca, num gesto inconsciente de querer verbalizar o que eu escondia em mim.

aos poucos, fui me abrindo, achando que, de fato, estava fazendo o certo, mesmo me sentindo exposta, ainda que me sentisse prestes a levar uma surra no escuro que eu não saberia de onde viria. ao mesmo tempo em que me senti mais confiante na entrega, me senti também insegura porque falar o que se passa dentro da gente não é garantia de entendimento e nem de reciprocidade por quem ouve. com isso, me sinto diminuindo de novo, me sinto despida e indefesa e eu sou a única que pode me proteger de mim mesma.

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