na universidade, aflorou-se meu espírito escritor. primeiro com textos curtos e escatológicos, depois com desabafos existenciais aqui mesmo, neste blog, quando ele foi criado.
é importante dizer que o momento em que fui uma leitora mais voraz em minha vida foi no início da adolescência, entre os 11 e os 12 anos. naquela época, eu lia 50 páginas por noite dos romances espíritas que minha mãe comprava. aquela papagaiada toda foi como as histórias da Cinderela e da Branca de Neve, com muitos toques de reencarnações e vida de princesa intercalada com pobreza e doenças. essas histórias eram realmente ricas! uma hora você era uma menina desgraçada e tuberculosa à beira da morte, na outra você estava de camarote relembrando vidas passadas em que foi uma cigana ou uma nobre rica e invejada. havia também vinganças, assassinatos... a galera pagava pelos seus pecados e eu me divertia com tudo aquilo, introjetando no inconsciente que todas as merdas que nos acontecem têm razão de ser, mas que se formos bons, tudo dá certo no final. ahammm.
falo isso porque, tirando esse tempo em que a leitura era puro prazer, na universidade e depois dela, não voltei a ler muito. eu lia os textos das disciplinas; lia os livros que era mandada ler, mas meio que era isso, não ia além, não sentia tesão em ler, não sei se porque minha vida estava passando por mudanças profundas naquele momento ou porque eu era apenas uma vagabunda, uma fraude ou simplesmente a aluna de letras que menos leu em toda a história apenas porque não estava a fim.
no mestrado eu li muito, li bastante, mas nada que fosse de fruição. (nota mental escrita: escrever sobre como foi o mestrado. resumo para o leitor: foi um inferno do caralho)
nunca saberemos... na época eu não sabia, mas hoje sei por que não leio muito (no ano passado foram apenas dois livros inteiros, a metade de mais um e meia dúzia de páginas de um terceiro), porque sou viciada em redes sociais e podcasts. minha vida é basicamente estar abduzida pela porra de um retângulo de plástico e vidro que está acabando com a minha sanidade mental e com qualquer vontade de viver uma realidade que não me dá pulsos de dopamina a cada milésimo de segundo, o que torna a minha existência e qualquer tipo de leitura uma tarefa árdua e desinteressante. - ainda assim, tô trabalhando nisso; na leitura e em formas de tornar a existência mais interessante. lembre-se de que às vezes o escritor carrega nas tintas para melhores efeitos literários. é tudo mentira, ou não.
de igual maneira, o smartphone e o meu descontrole em relação a ele acabam com qualquer traço de criatividade que possa haver para eu escrever. me sinto burra, vazia, murcha, acabada. por passar tanto tempo no telefone e ouvindo alguma coisa a todo momento - tenho ficado cada vez menos em silêncio comigo mesma -, minha vida parece um looping de nada com porra nenhuma. todos os dias são muito parecidos e isso não é um problema em si, já que o resumão da vida é que ela é essa merda mesmo, o problema é que não tenho tido nem a sensibilidade de perceber a minha merda particular sobre a qual sempre gostei de escrever a respeito.
eu sempre fui meu melhor e único assunto, do modo mais narcisista e aberto que consigo ser porque quando escrevo sobre mim, lá no fundo sei que também escrevo sobre você, sobre nós, sobre como pode ser difícil e também divertido estar vivo; estar aqui, escrevendo e reclamando, escrevendo e abrindo, escrevendo e expondo porque eu sei que não sou a senhora diferentona. admite aí também que às vezes é foda, que você se sente um bosta sem qualquer controle sobre a sua vida... e descambamos pra bad vibe... desculpa, é o meu jeitinho. amanhã já é hoje e hoje é sábado! dia de ficar no telefone sem peso na consciência porque é pra isso que servem os finais de semana, pra gente se anestesiar de todo o resto. parece que vai dar praia!