sábado, 25 de fevereiro de 2023

sobre metatextos

sabe aquela coisa em que você é muito bom e que você gosta muito de fazer? aquele "talento" especial, aquele "dom"? Pois é, também não sei. não nasci com ele. a coisa com a qual mais me identifico e sinto prazer em fazer é escrever, mas nem de longe isso quer dizer que as palavras jorrem pelos meus dedos. eu não sou como os escritores iluminados que, com cinco anos já escreviam suas primeiras palavras, com 12 já tinham escrito várias historinhas e com 17 já tinha ganhado um concurso de contos. "ah, a escrita sempre esteve na minha vida...". na minha, não.

não é como se eu fosse um prodígio, mas não tinha dificuldades para me expressar. mentira, a palavra não é bem expressar, está mais para facilidade de falar diante de muitas pessoas. eu não tinha vergonha, mas isso não tem a ver com a escrita, só que tem, sim. acho que escrevia bem só porque escrevia como falava, e não me refiro ao tipo de linguagem empregada, mas à fluidez do texto.

acho que começar a escrever mesmo, só comecei no terceiro ano do ensino médio. naquela época, tínhamos uma aula que era voltada para redação, aquela do vestibular. toda semana, deveríamos escrever uma sobre os temas que a professora indicava. eu nunca sabia o que escrever nessas redações. minha tática era a de começar falando sobre a necessidade de escrever um texto a respeito do tema x ou y. floreava, não aprofundava, era perfeito na época e parece que funciona ainda hoje.

De algum jeito essa tosquice me norteava; era como virar a chave na ignição e, de repente, eu estava dirigindo sem saber muito bem para onde, mas costumava dar certo. na época em que eu fiz o enem, em 2001, nós recebíamos uma cartinha que mostrava o nosso desempenho em todas as disciplinas e na redação. as minhas notas, no geral, ficaram no patamar da mediocridade e tudo bem, mas a nota da redação era bem acima da média geral; foi ali que eu percebi que era boa em alguma coisa sem fazer muita força pra isso.

de toda forma, não escrevia regularmente; não era um hábito. no começo da adolescência tive um diário, no qual escrevia eventualmente. acho que na época das agendas eu fazia algumas delas de diário também, mas nunca foi uma constante. escrever era só algo fácil de fazer quando precisava ser feito, até que entrei na universidade - de letras! 

(abre-se aqui um grande parêntese para explicar que a minha escolha não foi um "chamado" nem nada parecido. levando em conta que não me sentia confiante para prestar um novo vestibular depois de ficar mais de um ano sem estudar qualquer coisa, fiz letras porque era o curso mais barato da universidade, o que eu poderia pagar, e sem a necessidade de fazer uma prova, visto que consegui entrar pelo meu histórico escolar. na época, eu tinha 20 anos e uma filha de um ano e pouco e uma rede de apoio que me permitia assistir às aulas nas quintas e sextas-feiras à noite e nos sábados, de manhã e à tarde - o curso tinha uma grade de horários diferente de todos os outros daquele lugar)

... como eu ia dizendo, quando eu comecei a cursar letras, houve a oferta de uma oficina de produção textual na qual me inscrevi. no primeiro dia, escrevemos um texto cujo tema não me recordo, mas no final da aula, a professora me chamou e disse que eu não precisava fazer aquela oficina porque já escrevia muito bem. mais uma vez, me senti encaixada e parecia que eu pertencia ao texto, ao meu texto, a mim mesma.

obrigada, Enem; obrigada, professora Mônica, por terem sido os primeiros incentivadores desta que vos escreve.

continua...

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