segunda-feira, 8 de junho de 2020

sobre

nas buscas do caminho, que são sempre o próprio lugar a se chegar e o percurso, ando. lamento, choro, me doo de dor, ai quanta dor! e procuro, e sigo. danço, rebolo olhos nos olhos no flerte patético, engraçado. rio. rio de mim, meu rio represado começa a transbordar no riso leve. mostro meus dentes, não grunho, rio. olhos fechados, sinto as luzes coloridas sobre eles. solto, me solto, me debocho, me aceito. me vejo no espelho e me seduzo, com meus olhos, com minhas mãos e meus movimentos. me molho, me seco, me dispo. me deito e sinto. ouço as músicas, vejo por debaixo das minhas vistas a luz caleidoscópica ao lado esquerdo, na altura da minha órbita, da minha bochecha; está escuro, mas consigo enxergá-la como a um fantasma. sinto o toque, forte, constante, incessante. tremo, grito, berro, gemo e me regozijo - vou além, mais, mais, mais além! vejo as estrelinhas pretas no pano amarelo e elas começam a ficar em três dimensões. suo, me contorço, não controlo, não tenho controle. solto a dor, solto a aflição e a angústia. seca a minha boca o gozo, me encho de potência; entro em pranto. as lágrimas escorrem quentes e lentas pelo meus rosto. o sofrimento se esvai, escorrendo pela parede, de pontacabeça. urro muito, alto. me aperto, me seguro, me contraio. fodam-se os outros! estou ali, em mim. presa no corpo, livre no corpo, arrebatada, arfante. meus olhos então se enchem do nada, o nada, nada mais do que eu. a face formiga, a cabeça é esvaziada, o corpo vibra sem fim, treme.

é tempo de ir adiante, olhar à frente, seguir e dar uma volta pelo meu lado selvagem; está bem aqui. brado alto, falando comigo, dizendo para o que vive dentro de mim: eu sou, eu sou deus.

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