quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Sobre conviver, cansar e não entender

Não vou entendê-la nunca. Acho que nem a própria sabe por que age como age. Criou tudo dentro dela e grande parte disso é de demônios. O inferno são os outros, já diria Sartre, e ela é o meu. Acho que faço parte do dela também. Mas é minha mãe. Essa palavra que simboliza tantas coisas boas e felizes, a mim me dá medo, pois tenho medo da minha mãe; figura indecifrável, maledicente, amarga. Das mães dos outros, tenho inveja e, da minha, de muito tempo atrás, tenho alguma saudade.
Nem sei dizer o quão frustrante é precisar ser mãe da sua mãe, nem o quanto dói olhar os esforços de melhoria escorrendo pelo ralo dos dias. Não tenho mais esperanças de ser cuidada por ela, apenas gostaria que ela fosse capaz de fazer por si mesma, mas a essa altura, o pássaro não aprende novas formas de voar.
Prefere a gaiola, a corrente amarrada aos pés, pois ver os outros voarem não a faz querer bater asas também, ao contrário, ela quer que todos se amarrem a ela, se tranquem na gaiola e que um pano nos cubra para que ela tenha a sensação de que o mundo não é e nem nunca será maior do que o espaço pequeno, limitado e confortável que ela conhece.
Isso é o que ela pensa? Não sei, não saberei nunca, mas é o que penso dela.

Um comentário:

  1. Torço pela utopia da mudança e me coloco sempre disponível para amparar-te e te dar força na sua, requerida constantemente, resiliência.

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