quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020
sobre um dia qualquer
meu computador voltou a carregar... notebook, chame como quiser. isso foi anteontem; peguei-o no conserto e ele ficou na sacola sobre o balcão um dia inteiro, me esperando. ontem à noite, decidi ligá-lo e fazê-lo trabalhar. escrevi um tanto, mas foi só para mim, para clarear as nuvens da minha cabeça. hoje os cigarros tinham acabado e eles são sempre um bom motivo para sair de casa. coloquei o vestido verde, sem sutiã - que aguente o peso dos meus peitos sem reclamar. estou fedendo, então mantenho os braços junto ao corpo, e não escovei os dentes, então diálogos apenas a uma distância segura. coloco meus óculos escuros, saio de chinelos e cruzo com três carrinhos de bebês, cujos pais os levam para um passeio de final de tarde. as caras redondas e felizes me fazem sorrir, mas o sonho de família perfeita da classe média me dá náuseas. compro os cigarros e, na volta, cruzo com um grupo de rapazes falando sobre relatórios de trabalho e tecnologia. nessa hora, queria poder dar um tiro na minha cabeça. sigo. digito as senhas, pego o elevador, abro a porta, tiro a roupa, acendo um cigarro, ligo de novo o computador e escrevo.
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