segunda-feira, 29 de julho de 2019
Sobre cair para o centro do mundo
Será que a vida é uma queda livre sem fim e enquanto caímos vemos as outras pessoas caindo também? algumas estão caindo perto de nós e as agarramos pra ter a sensação de estancar o corpo em queda e assim seguimos. Nos segurando em uns e deixando os outros irem. Não quero ser refém de ninguém na minha queda. Quero cair sozinha, sentir o ar mais forte ou como uma brisa, dependendo dos dias. Sentir o vento mais frio ou mais quente, dependendo da estação, me enroscando em braços e pernas e abraços torpes e cálidos, duvidando da minha capacidade de flanar sozinha. Será que imponho a presença de outros por medo do chão se aproximar ou porque a queda é muito longa e preciso de alguém para me frear no meio do caminho vertical? Quando é que me sentirei como um pássaro independente, que bate as asas para onde quer ir? Quando?
sábado, 20 de julho de 2019
sobre o que vem depois da quadra 30
Os choques continuam, na minha boca e agora nos meus pés. Ando e reverbero. Abri uma meia-calça nova; é preta e me aperta na barriga. Me maquiei pra mim, eu pensei. Pensei que estaria feliz hoje porque eu terminei o que deveria ter terminado. Entreguei. me livrei. Agora falta pouco e eu deveria estar feliz por isso. Não acabou ainda e eu dou choradinhas ao longo do dia pensando na vida, como a que estou dando agora. Só umedeço os olhos e deixo qualquer coisa me levar. Eu queria água com gás e fui dar uma volta no cemitério, que nem sabia ficava aberto madrugada adentro, com o risco de quem já morreu fugir do paraíso. Há anos não fazia isso. O que será que me espera depois da quadra 30? O que será, agora que já cheguei na metade disso? Semana que vem é meu aniversário e eu não tenho nenhuma vontade de comemorar os 35.
quinta-feira, 18 de julho de 2019
Sobre a névoa do embotamento
Quando ainda não totalmente acordada, quando ainda meio dormindo, entre o sono de sonho e o sono de elocubrações, tive várias visões das palavras, dos sentimentos, das avalanches e bolos embolados, dos nós misturados com coisas, com dor, com coisas loucas que iam simplesmente aparecendo na medida em que o pensamento ia mais adiante. Eu quase não conseguia acompanhar tudo o que via e sentia tudo junto, ao mesmo tempo em que cada célula sentia diferente e individualmente o jorro do que eu via.
Me senti capaz, potente, como no gozo ofegante que estremece, que faz pensar se eu poderia morrer agora, se a morte se sente assim, se o suspiro último é tão condensador de toda a vida e a faz valer a pena por todo o resto? Será?
Senti falta, mas senti liberdade, senti medo, mas senti coragem, senti vontade de ser uma menina de laço vermelho nos cabelos, carregando toda a bagagem do que sei agora. Louca, louca, louca, como nunca pude ser, sempre me aparando, me contendo, e é assim que acabo com a minha potência. Quanto mais penso, menos escrevo. Mente idiota, quer sempre racionalizar o que está tão bonito na tela dos meus olhos. Estraga tudo.
Calma, eu volto. Vamos brincar mais de ir para longe, lançar mais longe a linha; veremos até onde consigo ir. Te levo comigo, sem peso. Vem!
Me senti capaz, potente, como no gozo ofegante que estremece, que faz pensar se eu poderia morrer agora, se a morte se sente assim, se o suspiro último é tão condensador de toda a vida e a faz valer a pena por todo o resto? Será?
Senti falta, mas senti liberdade, senti medo, mas senti coragem, senti vontade de ser uma menina de laço vermelho nos cabelos, carregando toda a bagagem do que sei agora. Louca, louca, louca, como nunca pude ser, sempre me aparando, me contendo, e é assim que acabo com a minha potência. Quanto mais penso, menos escrevo. Mente idiota, quer sempre racionalizar o que está tão bonito na tela dos meus olhos. Estraga tudo.
Calma, eu volto. Vamos brincar mais de ir para longe, lançar mais longe a linha; veremos até onde consigo ir. Te levo comigo, sem peso. Vem!
terça-feira, 9 de julho de 2019
Sobre o agora
O mais difícil é olhar pro agora, olhar para o espelho. A sala faz um eco vazio e eu ando pelas calçadas de forma cambaleante, desviando das pessoas e olhando para o chão, nauseada, aziática. O inverno me faz bem, mas me faz mal. Mesmo não lançando meu olhar melancólico sobre os outros, a brisa gelada me faz feliz, até que eu sue. Minha boca seca puxa o ar e o peito não se enche. Há um gato sobre mim, mas ele não está ali de verdade. Mais de um ano depois, volto. Sempre volto. Sempre com a mesma angústia fodida querendo saber o que a vida espera de mim? O que eu espero da minha vida? Meu inferno astral está acabando comigo. Sinto como se não tivesse tomado meu remédio. Tome seu remédio, vai lhe fazer bem, eu disse a mim mesma, mas agora sinto como se não o tivesse engolido. O céu da minha boca pulsa, minha mandíbula vibra e minha cabeça me dá choquinhos no meio da marcha. E eu continuo não conseguindo olhar as pessoas, continuo não conseguindo enxergá-las porque não me vejo. Mas estou aqui; os olhos amarelos me fitam com fome e eu já me suguei o quanto podia; não. Eu posso mais, eu posso agora e vou poder depois. Apago mais um cigarro e o peito chia. Descanso as mãos no teclado e penso; não sei no que penso. Tremo de leve lembrando do outro dia, um pé quente e outro frio e não durmo direito pensando na hora de me levantar e de ser uma pessoa melhor.
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