terça-feira, 9 de julho de 2019

Sobre o agora

O mais difícil é olhar pro agora, olhar para o espelho. A sala faz um eco vazio e eu ando pelas calçadas de forma cambaleante, desviando das pessoas e olhando para o chão, nauseada, aziática. O inverno me faz bem, mas me faz mal. Mesmo não lançando meu olhar melancólico sobre os outros, a brisa gelada me faz feliz, até que eu sue. Minha boca seca puxa o ar e o peito não se enche. Há um gato sobre mim, mas ele não está ali de verdade. Mais de um ano depois, volto. Sempre volto. Sempre com a mesma angústia fodida querendo saber o que a vida espera de mim? O que eu espero da minha vida? Meu inferno astral está acabando comigo. Sinto como se não tivesse tomado meu remédio. Tome seu remédio, vai lhe fazer bem, eu disse a mim mesma, mas agora sinto como se não o tivesse engolido. O céu da minha boca pulsa, minha mandíbula vibra e minha cabeça me dá choquinhos no meio da marcha. E eu continuo não conseguindo olhar as pessoas, continuo não conseguindo enxergá-las porque não me vejo. Mas estou aqui; os olhos amarelos me fitam com fome e eu já me suguei o quanto podia; não. Eu posso mais, eu posso agora e vou poder depois. Apago mais um cigarro e o peito chia. Descanso as mãos no teclado e penso; não sei no que penso. Tremo de leve lembrando do outro dia, um pé quente e outro frio e não durmo direito pensando na hora de me levantar e de ser uma pessoa melhor.

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