quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Eu, escritora

Não sei quando foi que comecei a escrever, não me dei conta do que fazia. Já tive diários quando era menina, mas não era muito assídua na tarefa de falar sobre o meu cotidiano. Depois que cresci, a verdade é que nunca me imaginei em nenhuma profissão muito significativa. A primeira coisa que quis ser foi arqueóloga, não sei por que cargas d’água. Fui crescendo e passei por várias delas... Professora, médica, veterinária, vendedora, atriz, diplomata... Acabei me formando em Letras, e essa formação não me dá ao menos um nome; “No que você se formou mesmo?” – Me formei em Letras, sou letrada? Acho que não. Das aspirações profissionais da infância passei a algumas outras que me traziam frustração: ser dona de casa, desempregada, sem perspectivas porque puta que pariu (!) não sei o que me deleita! Não sei do que gosto!


Escrever, então, pensei, poderia ser uma boa... Mas sobre o que eu escreveria? Não sou imaginativa como os grandes escritores que criam personagens densos com histórias conflituosas e desfechos bem pensados. Achei que seria uma ideia escrever sobre mim, sobre as minhas vivências, sobre as minhas parcas impressões acerca do mundo, mas vendo agora que não sei sequer o que me excita na vida, descubro que sou uma farsa. Mas isso também é mentira porque já sei disso há tempos, e escrever realmente me faz feliz.

O problema é que nunca acreditei em mim, porque sempre tive os outros como referência, os outros que são melhores do que eu. Sempre que acreditei um pouco mais no meu potencial, bastava que olhasse pro lado pra ver que havia alguém acima, e isso me fazia cair. Caio todos os dias por não conseguir ver em mim mesma tudo o que tenho de único.

A autoajuda vem agora: ninguém é melhor do que eu posso ser; somos únicos em tudo. Eu busco referências ao lado que me desestabilizam, como se elas só servissem pra provar que não sou capaz de fazer o que quero. Esqueço, com isso, que eu também sou referência pra alguém. Alguém me lê, me acha boa e me visita todos os dias esperando que eu tenha escrito algo novo.

Alguém espera ouvir de mim algo que faça uma mínima diferença em sua vida. Eu posso tocar as pessoas; posso ser uma distração em meio ao trabalho, posso ser ridicularizada, posso me tornar uma lembrança agradável ou desconcertante, posso xingar e lavar a alma de alguém e posso também fazer alguém chorar, porque eu sou depravada, mas também sei ser dramática, melancólica, doce e adulta. Eu posso fazer com que você se veja através de mim.

A gente consegue fazer a diferença na vida de várias pessoas, todos os dias e, talvez, a graça de tudo esteja nisso. Estamos sempre marcando as pessoas que cruzam os nossos caminhos. Elas nos deixam marcas e deixamos impressões nelas também. É tudo muito óbvio, mas eu gosto de pensar nisso, e decidi que, mesmo que o meu alcance seja limitado, deixarei a minha marca escrevendo.

2 comentários:

  1. "Se eu tentar fracassar e conseguir. Serei um sucesso?" Philosoraptor

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  2. Eu te visito todos os dias. O que gosto sobre escrita, é que cada um tem seu modo único. E ser melhor ou pior varia, tudo sempre depende do referencial.
    Aos meus olhos, de uma dislexica que ama palavras, es muito boa. Bjs Dag.

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