Naquela cidade, a menina conheceu sabores diferentes. Nunca simpatizou com o açaí, apesar de todos em sua casa terem gostado do fruto. As batedeiras ficavam espalhadas por todos os cantos, e na hora do almoço, havia filas para comprar aquele sumo, que era a base alimentar de grande parte da população. Do fino ou do grosso, colocado em sacos plásticos e comprado aos litros, tomavam acompanhado de charque, camarão, farinha demandioca, que lá era amarela e grossa - deliciosa-, com farinha de tapioca, tamuatá ou puro, aquele era o fruto que dava a leseira depois de comê-lo, melhor dizendo, depois de tomá-lo.
Os camarões do rio também eram gostosos, e vendidos pelas ruas em carrocinhas, a preços módicos. A menina não gostava muito do cheiro, mas o sabor... Ela aprendeu a gostar de peixe frito, de palmito de jussara, de macaxeira e de mingau de tapioca. Mas nunca conseguiu sentir nem o cheiro da maniçoba, tão apreciada por aquela gente; tacacá, também, não engolia.
Os sabores das comilanças eram geralmente realçados por uma pimentinha que a menina conhecia bem, mas não era porque gostava; conhecia o ardor da pimenta-de-cheiro desde os oito anos, quando uma vez, numa briga com o irmão, ele por vingança cruel de criança, esfregou-lhe uma dessas na boca da pequena. Naquele dia, de boca inchada e sem jeito de parar de arder, viu que nunca provaria seu molho amarelo.
Naquela cidade, a menina aprendeu a dançar carimbó, ouvindo Pinduca. Lá também aprendeu o que é brega, o ritmo musical, que tocava nos bares, nas rádios, nas casas dos vizinhos, a qualquer hora do dia ou da noite. Com esse som, os casais dançavam colados, rodopiavam e suavam de um jeito safado e, irremediavelmente, contagiante. Ela não gostava da música, mas não havia como não aprender ao menos as suas letras, visto que estavam por toda a parte.
Mas lá, naquele lugar, ela descobriu músicos talentosíssimos, que cantavam a região com todas as belezas que ela tinha, e ainda tem. Com nostalgia, a menina se despede do relato de hoje, com Osmar Júnior cantando o Norte.
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