Ter um filho é algo que muda as perspectivas da nossa vida. É bom? Sim. É mágico? Muito. Se eu teria outro filho? Não. Não, porque um filho envolve muito mais do que a visão de um pequeno e indefeso ser com cheirinho gostoso. Um filho envolve muito mais do que as condições necessárias para criá-lo; um filho envolve muito mais do que o desejo de ser mãe, muito mais do que desafiar a sua sanidade mental e colocar o controle da sua vida fora de você mesmo.
Imagine você, senhora da sua vida e do seu destino; agora, imagine-se com um filho. Pronto, você não tem mais controle, sua vida não é mais sua, sua vida agora é duas; a sua e a dele, sendo que sem ele, você não vive mais, não plenamente, não como antes, e um dia você não poderá mais dizer a ele o que fazer e como fazer. O filho vai viver a vida dele, e pode até se desligar de você, mas você... Você estará para sempre ligado a ele.
Durante nove meses eu fui o abrigo seguro e aconchegante que nutriu uma menina e fez com que ela se desenvolvesse perfeitamente. O que eu ganhei? Além dos seios caídos, das estrias por toda a parte e da barriga murcha e vazia, ganhei um título: o de mãe. Sonhava com ele só quando era criança, quando ter um bebê parecia encantador, parecia a mais nobre de todas as funções que uma mulher poderia ter.
Filhos são para a vida toda, mesmo quando se vão, mesmo quando somem, mesmo quando morrem.
Crianças demandam atenção, tempo, amor, disciplina, educação, afeto, colo, conforto, paciência, disposição; filhos exigem tesão! Tesão para acordar de três em três horas, e ouvir o choro da fome que não consegue ser expressado de outra forma, por enquanto. Tesão para parecer que você está de mudança cada vez que sai de casa carregando uma sacola enorme com fraldas, pomadas, lenços, paninhos, mudas de roupa, mamadeiras e chupetas, fora os brinquedinhos, ah, os brinquedinhos que acalmam...
Você tem que ter muito tesão para lavar as roupas de um bebezinho à mão, dar banhinhos gostosos, ninar, levar ao médico e quase morrer de dor no coração quando percebe que ele chora e que você já fez de tudo para que ele parasse, e ele não para, mas ele também não consegue dizer o que está errado, e depois de algumas horas de desespero ele cede, dorme nos seus braços de maneira angelical, e é só então que você consegue descansar.
Você tem que ser sábia e uma sábia com muito tesão para aprender a decifrar o pequeno ser, cheio de segredos, os quais você vai passar vida inteira tentando descobrir, sofrendo para descobrir, achando, com toda a sua arrogância de mãe, que já sabe de tudo. A gente sabe sim, mas é longe de ser tudo.
Nunca conseguiremos passar da porta da morada de nossos filhos, pois eles são muito mais do que nossa extensão, eles são o que são, são eles mesmos.
Minha filha me trouxe uma nova dimensão de vida, mesmo que eu não me dê conta disso muitas vezes. Ela ma traz todo o tipo de alegria; das únicas, como aprender a andar e a comer sozinha, até as mais prosaicas, como os desenhos lindos, o amor aos bichinhos, as risadas, os dentes que caem, e ainda há tantos por cair...
Minha filha ainda me deixará acordada durante a noite, morrendo de preocupação sem saber se ela está bem enquanto sai com os amigos; ela ainda vai me deixar de cabelos em pé pela rebeldia da adolescência; ainda vai me dar alegrias pelas suas conquistas, e vai chorar no meu colo pelas desilusões da vida que serão novidade para ela...
Pois ter um filho envolve muito mais do que ter alguém sob a sua égide, envolve você. E eu sou egoísta, sim, eu sou. Ter uma filha mudou tudo, mudou a minha vida, o meu corpo, o meu jeito de pensar e de agir, mudou os meus planos e minhas prioridades.
Não sou mais a mulher que era, porque hoje eu sou mãe. Antes dos meus desejos, eu sou mãe; antes de sair de casa, eu sou mãe, e preciso de alguém que tome conta da minha filha; antes de ser mulher, eu sou mãe, meu corpo não é como antes; sou mãe e sou imperfeita, sou mãe e não me sinto desejada, sou mãe.
No ventre, a cicatriz me diz que eu vivo fora de mim, o corpo flácido me diz todos os dias que eu sou mãe, mas ora ou outra ainda me surpreendo ao ouvi-la dizer a palavra “mãe”, sou eu. A mãe impaciente, brava, que acorda no meio da noite com o grito de desespero da menina que clama por ela, quando de súbito acordou e vomitou por todo o quarto. Eu sou a mãe, que orgulhosa, chora nas apresentações do colégio. Eu sou a mãe que, ouve contrariada, as reclamações que ela faz sobre mim. Eu sou a mãe que quer dormir até mais tarde nos finais de semana e espera não ser incomodada pelo seu pequeno “eu” que exige atenção aos seus novos feitos.
Eu sou a mãe que quer desistir de tudo às vezes, e que quando se sente muito sozinha, só tem vontade de abraçar, chorar e soluçar agarrada à pequena menina, que parece mais adulta do que eu mesma.
Eu sou a mãe que morre de medo de perdê-la e que jamais se perdoaria se alguma coisa ruim lhe acontecesse.
Ter um filho é viver um sem número de emoções boas e ruins, é ter vontade de colocá-lo de vez em quando no guarda-roupas e esquecê-lo lá por uma semana; ter um filho é sonhar com ele de saudade, é sentir o silêncio corroendo a casa vazia; é querer que eles não cresçam nunca, mas que cresçam logo.
Ter um filho é muito mais do que quem não tem um filho possa imaginar. E é por serem tão especiais que não devemos tê-los assim, a torto e a direito, de qualquer jeito, só para nos perpetuarmos, devemos tê-los conscientes de que nunca mais teremos paz, e de que da felicidade deles, depende a nossa.
Maravilhoso. E é tudo isso que sinto, também, pelo meu pequeno.
ResponderExcluirQ lindo!
ResponderExcluirRe do blog www.descobrindoamaternagem.blogspot.com