domingo, 18 de janeiro de 2009

Das unhas roídas

Olhei para o lado e percebi que a pequena dormia. A boca estava brilhante de manteiga de cacau, que ela pedira a mim que passasse para que seus lábios frágeis de criança não ficassem rachados. Engraçado como uma pessoinha tão pequena poderia ser voluntariosa e cheia de argumentos...
De repente, ela suspira e vira-se na cama. Pousa a pequenina mão sobre o meu seio, e mais uma vez percebo que não adiantaram as conversas sobre parar de roer as unhas, porque Ana está com os dedinhos... ah, os dedinhos, as unhas foram tão roídas pelo hábito que eu não saberia explicar de onde surgiu, que parece até que a criança de nariz arrebitado passa por muitas situações estressantes.
Então, lembro-me de passar novamente nos tocos de unha aquela base com o cheiro de esmalte que sempre me agradou, mas com o sabor de fel que espero, mude o comprimento das unhas de minha filha.
E há de ser nessa hora, enquanto escrevo, enquanto ela dorme... pois depois de passá-la pela primeira vez, e sentir o amargo na boca, era só eu falar em pintar as unhas que a pequena fazia cara de choro e dizia que não mais iria roê-las.
Enquanto ela espalha-se pela cama, e fala dormindo: “Eu tenho certeza...”, ronca aquele ronco gostoso de criança... eu procuro pelo esmalte para passá-lo.
No vidrinho lê-se: Inibidor do hábito de roer unhas. Mas isso não deveria ser um hábito...
Pego suas mãozinhas e começo a passar-lhes a base... ela com os olhos não totalmente cerrados, ronca... passo em todos os dedinhos, sem muito jeito. E aguardo os resultados. Amanhã verei Ana fazer cara feia quando puser as mãos na boca.

Escrito em: 11/07/07

2 comentários: