no dia 16
de fevereiro, mais conhecido como amanhã tomando por base hoje, fará um ano que
comecei a frequentar a academia. o lugar da maromba, do “treino”, de pessoas
superficiais que só se importam com a aparência. odeio esse lugar! esse foi meu
pensamento por uma vida toda. então, como posso ter ido parar lá? virei eu a
pessoa superficial que só se importa com a aparência? vamos chegar lá, peraí.
eu fui a
criança asmática. tive minha primeira crise com uns nove ou dez anos de idade.
pensando agora nos fatores emocionais, talvez fizesse bastante sentido eu
perder o ar naquela época e em outras em que eu tinha graves crises que me
faziam parar no hospital para fazer umas nebulizações calibradas com berotec,
que me deixavam tremilicante, mas com o peitinho respirando aliviado.
o ponto é
que a asma foi um grande pretexto para que eu me afastasse de qualquer
atividade que fizesse meu coração bater mais forte, que exigisse do meu fôlego,
e eu parei de brincar de pega-pega, de queimada e de encenações em que eu era
uma vítima do Jason Vorhees e corria em volta do prédio da escola tentando
fugir dele, enquanto um amigo, o Robson, interpretava o monstro do filme de
terror atrás de mim, querendo me matar. essas brincadeiras eram muito
divertidas – juro!
daí, já
não participava mais das aulas de educação física. na época, o mais comum era
que fôssemos poupados de qualquer esforço, por isso eu era dispensada dessas
atividades. o recomendado era natação, mas a modalidade era completamente fora
de questão por razões financeiras. eu ficava no banco. gostava de não estar ali
onde eu via os outros. pensando agora, não sei se não gostava de qualquer tipo de
esporte porque achava que não podia praticá-lo ou por não praticar nada, não
pude descobrir que gostava de algum deles... olhando hoje, em retrospecto, acho
que não gosto de nenhum mesmo porque não gosto de competir. não gosto de
disputas. não gosto de ganhar ou perder. gostava de estar fora.
nos
períodos em que eu não fazia as aulas de educação física, arranjava outras
coisas para fazer. gostava de ler romances espíritas. gostava de acreditar que
eu já tinha vivido vidas diferentes da minha, e que só não me lembrava disso –
a puberdade é um tempo bonito da vida da gente. na sexta série, época em que eu
lia romances espíritas na escola de freiras em que estudei até setembro de
1996, terminei esse mesmo ano em outro estado, em outra escola, em um contexto
completamente diverso. como era dispensada das aulas, eu atravessava a rua e ia
para o cemitério que ficava ao lado do colégio. às vezes, passava tardes
inteiras lá, passeando pelas lápides, bisbilhotando os mausoléus, lendo os
nomes das pessoas nos jazigos – e sendo destemida e imbecil o suficiente para
fazer brincadeiras do compasso sobre os túmulos com alguns colegas que se
aventuravam comigo na empreitada.
já no
ensino médio, eu não participava das aulas e passava a manhã toda transando com
carinhas por quem eu era apaixonada, achando que eles me amariam se eu
transasse com eles – a adolescência é um período difícil e doloroso de
descobertas, das quais só nos damos conta chorando num divã muitos anos depois.
desenhado
esse breve cenário, o fato é que cresci sedentária. achava meus genes meio
estragados; a parte caçadora-coletora da minha pessoa parece que não havia se
desenvolvido. eu não gostava de nenhuma atividade. não gostava de nenhum
esporte. depois de adulta, já tinha tentado natação, caminhada, academia, yoga,
zumba, jiu-jitsu, pilates e simplesmente odiava qualquer coisa que fizesse meu
corpo doer. a academia era paga adiantado só pra que eu pudesse me sentir um
lixo de pagar e não frequentar e me envergonhar por não ir e, ainda assim, não
conseguir ter uma atitude diferente. yoga era legal, mas as pessoas no estúdio
eram um tanto bitoladas e era caro. eu tinha medo de fazer alguns movimentos e
me quebrar toda. fui desenvolvendo um receio de me mover. zumba foi só
experimental; me senti ridícula demais para estar em uma humilhação pública. no
jiu-jitsu não conseguia me imaginar usando aquelas roupas quentes e com cheiro
de murrinha. o pilates era ótimo, mas também muito caro para apenas duas vezes
por semana. andar de bicicleta sempre foi difícil porque eu mal conseguia me
manter sobre ela sem cair. só fui aprender a andar mesmo depois de adulta e
morro de medo de ser atropelada porque não me considero uma ciclista que
consegue andar na rua em meio aos carros; só em ciclovia e olhe lá! não
engrenava em nada por muito tempo. as caminhadas ainda eram mais frequentes,
mas o sentimento, ao mesmo tempo que era bom, também era de perda de tempo, de
derrota, de pra quê todo esse esforço?
me sentia
uma massa amorfa e resignada em relação a atividades físicas. ah, não é pra mim
essa merda toda. introjetei o modo aceitação e foi maravilhoso por uns bons
anos. exercícios? não, sou contra. faz aí você, eu tô bem sem fazer nada. tô
bem na minha posição favorita, a horizontal. na minha cabeça eu tava bem mesmo.
achava que poderia viver assim pra sempre.
mas como
tudo na vida, a atividade física não impacta simplesmente no aspecto de ser
ativo ou não. impacta também no nosso corpo. e o meu corpo foi durante muitos
anos reflexo também dessa falta de movimento, reflexo dessa indulgência
desmedida. eu faço só o que tenho vontade. não tenho vontade de me mexer, fico
aqui. eu como só o que tenho vontade. uma pizza inteira? claro que eu quero! eu
mereço. a vida é uma merda, deixa eu me recompensar pelo dia difícil. eu vivi
assim por muito tempo e aquilo funcionava pra mim. foi bom. a gente tem
períodos e fases em que se cobra muito, em que se pune muito, outros em que se
aceita como está, em que abraça a realidade do jeito que ela está se
apresentando porque é o que dá pra fazer no momento.
e por mais
que a gente pense que não muda, que não quer ou que não consegue; por mais que
a gente se veja preso numa engrenagem de repetição, quando a gente consegue se
olhar com o mínimo de distanciamento, consegue perceber pequenas mudanças na
repetição; pequenos desconfortos. sabe quando você está calçando um tênis muito
confortável, mas tem uma pedrinha muito inha na palmilha, em contato com seu
pé? ela é ridiculamente diminuta e ainda assim, ela deixa seu andar incômodo. a
gente vai andando meio chacoalhando o pé pra ver se ela se acomoda em algum
canto que não perturbe e às vezes ela até se move, mas daí vai parar lá na
ponta do dedinho, puta que pariu! em algum momento a gente tem que tirar o
tênis. a inquietação é tão grande que você tem que tirar a porra do tênis!
depois de
fases desconfortáveis com meu corpo, vivi momentos de muito amor e aceitação
comigo mesma, me sentindo gostosa e linda como eu estava no momento. até estava
satisfeita, feliz do modo que estava. mas isso era a minha cabeça em relação ao
meu corpo, só que o corpo, aquele que é parte de mim, mas não sou eu toda,
assim como a minha mente, estava bastante descontente com a minha postura com
ele. o bichinho estava somatizando as coisas que estavam resolvidas na minha
cabeça, sendo que ele não foi consultado sobre nada disso. tava ali, no modo
máquina que faz o que a cabeça manda e quer. acontece que ele mandava sinais
para mim, sinais que eu não relacionava uns com os outros.
achei que
era só meu jeitinho vagabunda de ser. achava que era só porque eu era uma vadia
que não gostava de se mexer. um dia, li alguém falando sobre frouxidão
ligamentar e pensei: tenho esse negócio! quando fui pesquisar a respeito,
parecia fazer bastante sentido. marquei uma consulta com uma fisioterapeuta
especializada e com um reumatologista. fiz exames que descartassem qualquer
doença autoimune e tive o diagnóstico de síndrome de hipermobilidade articular
generalizada. a princípio pode parecer qualquer coisa como ah, você é bastante
flexível, que legal! mas não é nada legal. tem pessoas que só são flexíveis
mesmo, mas eu tenho facilidade pra me luxar, deslocar. as articulações são
muito móveis, daí que meus joelhos, por exemplo, têm condropatia grau 3 porque
vivem em hiperextensão. meu colágeno não é bem sintetizado e isso se reflete em
todo o meu corpo, uma vez que o colágeno está na superfície de todos os nossos
órgãos e não só na pele.
pessoas
com hipermobilidade podem ter resistência à atividade física porque o esforço
que o nosso corpo faz é maior do que um corpo que não tem essa merda. e isso
corrobora a minha tendência de anos de não fazer nada para além de ser uma
vagabunda simplesmente. a gente sente muito cansaço, quase uma fadiga crônica,
dores nas articulações, além de sentir tonturas quando a gente faz movimentos
muito bruscos, especialmente se levantando rápido. a pele é elástica, mas é
também flácida. é uma grande bosta ter isso resumindo.
a
fisioterapeuta disse que apesar de tudo, meu problema era muito mais no âmbito
do desconforto do que da gravidade; se meu caso fosse grave, eu teria a
síndrome de Ehlers Danlos, que é uma parada muito mais tensa, envolvendo até
mesmo a paralisia de órgãos internos dada a severidade da condição, que se
divide em vários subtipos. mas foi o que ela me disse depois que me moveu em
todos os aspectos da minha vida: essa síndrome não tem cura, mas a “cura” dela
está no movimento.
e eu
descobri isso beirando os quarenta. pensando: tô precisando cuidar melhor da
minha casa. tô aqui, cheia de dor, sedentária, comendo feito um animal
enjaulado, me sentindo cada vez mais cansada, indisposta. como eu vou estar
daqui a dez anos nesse ritmo? pela caralhonésima vez, decidi tentar me mexer,
mas não como uma obrigação, como um gesto de carinho comigo mesma, como uma
garantia de que o movimento faria eu me sentir melhor. e eu recomecei. fazia
exercícios em casa, assistindo vídeos no YouTube e pensando em como eu me
sentia descondicionada, fraca, dolorida, encurtada. depois, comecei a pagar uma
plataforma de exercícios em casa que tinha uma grande variedade de atividades e
cada dia eu inventava de fazer algum. não conseguia acompanhar tudo, não tinha
fôlego; meus joelhos gritavam. eu parava, ficava uns dias sem fazer ou fazia
outra coisa que não exigisse tanto deles.
a parte
boa disso tudo é que eu me namorava. fazia os exercícios na frente de espelhos
e, com a mesma voracidade que eu me recriminava em frente a eles, tirava fotos,
fazia vídeos e me desejava. me amava e me odiava com a mesma violência. ficava
eu ali, de caso comigo mesma, me fazendo promessas e me xingando quando as
descumpria. foi um período intenso em que me permiti saber que eu conseguiria
fazer o que quisesse, dentro dos meus limites, que fui descobrindo aos poucos.
depois que
aceitei o movimento como um passo fundamental para a melhoria dos meus
sintomas, retomei o desejo de modificar meu corpo e isso foi um tabu para mim
mesma durante a fase de aceitação em que estive. veja, eu era obesa. veja, eu
me sentia bem na minha pele. eu já escrevi sobre isso aqui sobre o corpo , porque esse texto é sempre uma oportunidade de eu me
mostrar pelada porque eu me acho bonita. me achava naquela época e continuo me
achando agora. eu não sentia vergonha do meu corpo porque nunca achei que
tivesse uma razão pra me envergonhar dele e eu estava óquei com isso.
acontece
que quando eu vi que me mexer estava, mesmo que muito lentamente, começando a
mudar as minhas formas, eu pensei que poderia finalmente fazer uma cirurgia
plástica. “A” cirurgia. a “minha” cirurgia. a cirurgia que eu pensava em fazer
desde o dia em que, grávida, apareceu a primeira estria na minha barriga. falei
sobre isso nos textos sobre parir, nascer e morrer para nascer de novo e em sobre o leite, o peito e a barriga também. minha filha tinha quase
vinte anos e esse foi o tempo pelo qual pensei em fazer uma cirurgia plástica.
cheguei a marcar a data uns 14 anos atrás, mas desisti porque a vida me chamou
e era urgente. daí meio que larguei a ideia; adormeceu a vontade dentro de mim,
soterrada por questionamentos: e se eu quiser mais filhos? – a melhor decisão
foi de não ter mais nenhum –, e se eu morrer? é claro que uma gracinha dessas
de fazer cirurgia por vaidade pode resultar em morte. certamente eu morreria
ou, no mínimo, ficaria sequelada pela escolha estúpida de querer ser quem eu
não era. e se ficar uma merda? e se eu não gostar? e se a cicatriz ficar feia?
e se?
e se eu
permanecesse exatamente do jeito que estava porque já era familiarizada com ele
e só aceitasse que era isso mesmo? bom, foi assim durante um tempo, mas daí eu
percebi que era possível mudar e que a agente de mudança era eu mesma! a
sedentária imutável! não é que essa árvore de raízes bem fincadas no chão
começou a se mover pelos recônditos da terra fofa sem que a superfície se
apercebesse disso?
mas
aconteceu comigo. eu tava lá! juro que foi assim que se deu! eu entendi que
conseguia mudar e, então, eu quis ser capaz de mudar um pouco mais. claro que a
velocidade da minha mudança era como eu, meio marcha lenta, mas resolvi
procurar um médico que não só fazia a cirurgia, como usava um tipo de
equipamento que era uma tecnologia muito eficiente para a retração de pele e eu
pensei: bom, minha pele é toda cagada, já sei que, se fizer, o resultado não
vai ser lá grandes coisas, mas se é o que tem de mais moderno, quero tentar,
alguma melhoria há de haver.
e lá fui
eu. ele ouviu minhas demandas e disse: aham, a gente consegue melhorar bastante
as tuas formas, mas pra fazer a cirurgia você precisa emagrecer 15 quilos. eu
olhava pra cara dele e pensava: mas que audácia desse filho da puta! emagrecer
15 quilos pra me operar? pra quê? não é sustentável, vou engordar tudo de novo
depois. isso é ridículo! nunca mais volto nesse lugar! enquanto eu praguejava
ele mentalmente e mostrava os dentes meio rindo, meio rosnando, ele me dizia
que eu precisaria fazer duas cirurgias em vez de uma só. isso por questões de
tempo de anestesia, segurança, bem como essa coisa de emagrecer seria mais uma
garantia para evitar qualquer tipo de intercorrência nos procedimentos.
hahahaah. esse cara quer eu emagreça 15 quilos e ainda não vai me operar de uma
vez só?! que palhaçada!
e ele
continuou. disse que se eu quisesse, poderia fazer um acompanhamento
nutricional e com uma endocrinologista da clínica para chegar no peso que ele
achava seguro para mim. logo eu, que já tinha me emboletado com remédios para
emagrecer, feito a dieta dos pontos, da sopa, da lua, da casa do caralho e que
já tinha recebido vários planos alimentares de várias nutricionistas e nunca
seguido nenhum?! ele sugeriu que eu fizesse esse acompanhamento.
em anos
anteriores, quando sazonalmente despertava em mim a vontade de mudar, eu já
havia ido a outros médicos e os valores das cirurgias só iam aumentando. quando
fui a esse médico, o valor dessa mudança era ainda maior do que os anteriores.
muita grana mesmo, mas eu senti nele uma confiança que não senti com outros. eu
tinha como arcar com os custos e fui chamada de doida porque eu poderia gastar
esse dinheiro fazendo viagens. acontece que nessa altura, eu já estava
decidida, mas ainda não sabia disso. eu poderia ir pra China, e seria legal,
mas meu corpo, que está comigo o tempo todo, ainda estaria do mesmo jeito e eu
não queria mais ele do jeito que estava. eu queria que ele mudasse. eu poderia
fazê-lo mudar sozinha, mas essa mudança só iria até a parte em que a minha barriga
murcharia e a pele ficaria pendurada, bem como os meus peitos, que já eram
murchos e caídos. eu gostava deles assim, mas queria saber como eles poderiam
ser se fossem diferentes.
eu fui
feliz com o corpo como estava antes, mas agora não era mais e queria ele
diferente. eu entendi que eu fiquei na mesma posição por muito tempo porque eu
quis, porque eu precisei, até que eu não quis mais e precisei fazer diferente.
achei que querer mudar me tornava uma mulher superficial. como se me preocupar
com a minha aparência desvalorizasse tudo em que acredito. mas daí fiquei
quieta. aceitei a proposta do médico, aceitei o plano que a nutricionista
passou – e que foi diferente de tudo o que eu já tinha feito antes – e só fui
indo.
em seis
meses, consegui dar prioridade pra alimentação, que era o que me fazia
emagrecer de verdade naquele momento. eu me machuquei nas atividades em casa e
acabei fazendo fisioterapia pra tentar deixar os joelhos melhores. emagrecer
foi um processo muito bacana pra mim. de me sentir no controle, de saber dosar
as coisas, de adotar um café da manhã que mantenho há quase dois anos com
grande prazer. eu como frutas todos os dias hoje. e eu nunca fui de comer
frutas, só com leite condensado, só com algo por cima pra camuflar os sabores.
eu era uma cretina! eu era infantil no que se refere à alimentação e não me
refiro a paladar infantil porque sei que existem pessoas que sofrem muito com
essa questão de seletividade, mas era infantil no sentido de que não me
oportunizava novos sabores, queria me manter engessada e agindo como uma
criança que só quer prazer e satisfação e toma todo o resto como um grande
sacrifício.
eu entendi
que se mover, em todos os aspectos, acarreta desconfortos e a gente precisa
aprender a lidar com os desconfortos porque viver é desconfortável e não dá pra
achar que é possível viver só como a gente quer e acha que é gostoso. viver é
uma merda e eu sequer pedi pra chegar aqui, mas já que aqui estamos, vamos
rolar a pedra morro acima, cada dia um pouco melhor, vamos?
em seis
meses eu emagreci 13 quilos. quando eu emagreci nove quilos, eu voltei a caber
em um vestido que não usava havia mais de dez anos. eu me senti tão
incrivelmente feliz! me senti feliz porque me senti capaz, porque eu tinha
conseguido mudar! porque eu não era a porra do código de Hamurabi, talhado em
pedra. eu podia mudar e eu queria mudar e eu tava me esforçando pra mudar e eu
tava vendo que era tangível.
também me
senti frustrada em alguns momentos em que empaquei na perda de peso, porque eu
queria continuar mudando, mas o corpo também vai brecando a gente. hei, calma
lá, gatinha, que a gente já mudou muito. segura o tcham aí. ele também tem o
tempo dele. fato é que eu consegui fazer as duas cirurgias sem morrer – vide
este texto escrito por mim mesma viva –, mas as recuperações foram bem escrotas
pra mim. senti muitas dores e passado pouco mais de um ano das duas, não sinto
que meu corpo é como antes – porque, afinal de contas, não é mesmo –, mas me
refiro às sensações do corpo, sabe? partes dele estão dormentes ainda,
formigando ainda. sinto minha barriga amarrada, ainda me sinto limitada nos
meus movimentos e tive todo um trabalho para me re-conhecer e aceitar novamente
quem me tornei por enquanto.
eu quis
muito mudar; e mudar, e ainda assim, continuar sendo a mesma pessoa dá
trabalho, mas é bom porque quer dizer que eu, como unidade de pessoa, continuo
aqui, ocupando o mesmo espaço no mundo, com a diferença que agora, minha mente
e meu corpo já não são como antes. dá pra entender? somos e não somos os
mesmos. tudo junto e ao mesmo tempo.
bom,
depois de todo esse preâmbulo, fevereiro do ano passado, meu médico me liberou
para me exercitar. pensei agora é a hora da verdade. preciso encarar a
academia. emagreci, me reformei toda, agora tenho que garantir os músculos.
tenho que ser capaz de limpar minha bunda na velhice. tenho que estar apta e a
cair e não quebrar a bacia e daí ficar acamada. tenho que conseguir amarrar
meus sapatos, carregar sacolas, ser uma velha independente e autônoma. tenho
que fazer m-u-s-c-u-l-ação!
(continua...)
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