Na quarta-feira volto ao trabalho. Eu não gosto de
trabalhar; nunca gostei de fato. Em princípio, achei que trabalhar era algo que
me dava propósito, porque era o que eu ouvia as pessoas dizerem. Mas que raio
de propósito é esse? Não tenho interesse em ser reconhecida pelo trabalho que
exerço; tenho interesse apenas em fazê-lo direito e receber pelo que executo. Meu
trabalho é só meu meio de vida e ponto.
No meu mundo ideal, as pessoas todas seriam obrigadas a
trabalhar, mas só um pouquinho, de maneira que se todos trabalhassem em prol do
necessário para o bem-estar coletivo, haveria tempo de sobra para “trabalhar”
com o que nos dá prazer, com o que nos move, com o que cria sentido de
existência plena e de felicidade.
Bem, isso lá no mundo que não existe. Neste aqui, no sistema
capetalista, sim, é do cão mesmo, nele eu tenho um emprego que me garante uma
vida digna e tenho que ser grata por isso porque milhões de pessoas não têm a
mesma “oportunidade”. Não quero discutir direitos básicos que não são
respeitados na engrenagem que mói gente diariamente. Quero só falar de mim, pra
variar.
Nos idos de 2013, eu escrevi aqui sobre abandonar o facebook. Aquela merda tinha me viciado e eu decidi sair de
lá. Ocorre que como boa e desavisada adicta, um vício não se extingue, ele é apenas
substituído por outro e, vejamos, o instagram é uma merda ainda mais malcheirosa.
Cá estamos desde sei lá quando, acabando com qualquer vestígio de ação consciente
que eu possa protagonizar em minha vida.
Sempre que entro no instagram, meu dia é consumido por
gatinhos lindos (a quem eu amo muito), e isso não seria um problema, se o feed
não fosse infinito e eu não fosse acossada por milhares de propagandas de
coisas que não preciso (mas que ainda assim acabo comprando), com um toque de
notícias desgraçadas de todas as atrocidades que acontecem a todo momento no
mundo inteiro e às quais acabo ficando dessensibilizada, já que as vejo com
tanta frequência quanto assisto aos vídeos engraçadinhos de cachorros sendo mimados
seus donos.
Veja, não é que eu não sinta, talvez o problema seja sentir
e não ter tempo de elaborar o que vejo e como eu sinto. Sempre vem algo depois,
algo que me joga pra cima e que depois me faz sentir vontade de morrer. Algo que
me faz sentir fome e algo que me faz sentir uma fodida na vida. Algo que me faz
querer ser melhor e algo que me faz querer comprar, ter, acumular. Algo que me
faz acreditar com todas as forças que a raça humana é a escória do mundo e algo
que me faz ter alguma fé nessa merda toda.
É dopamina, cortisol, palpitação e angústia. É busca, falta,
desejo e tédio. Essa porra toda misturada o tempo todo. Isso não é viver; assim
como trabalhar não deveria ser o sentido da vida. Tá todo mundo vendendo alguma
coisa aqui nessa merda, vendendo desejo e promessa. Decidi que vou vender também.
Vou criar meu conteúdo para além do que crio uma vez por dia (em média) no vaso
sanitário.
Eu vou desinstalar o instagram do meu telefone. Só o
acessarei pelo computador. Isso já é uma redução de danos para o meu problema. Eu
criei dois perfis em sites de conteúdo adulto: onlyfans e privacy, mas deixa eu explicar e esclarecer: não, o tipo de “conteúdo”
que eu vou postar lá não é exatamente o que se poderia esperar. Não vou postar
fotos ou vídeos explícitos, pelo menos não explícitos da forma que a
pornografia nos acostumou a consumir.
O que eu postar lá será experimental (para mim). Não tenho
interesse em saber o que você espera, nem o que você acha. Vou fazer isso por
autoafirmação, por curiosidade, e porque quero ver se consigo ganhar uns quinze
pila pra comprar um picolé. Se não me render nem isso, faço de conta que nunca
aconteceu.
É isso, virei produto. Só gostaria de lembrar que medíocre é
o papel no qual me sinto melhor. Nem muito, nem pouco; na medida do ordinário. Não
quero me esforçar demais porque me canso rapidamente e o esforço de estar viva
já me enche a porra do saco.
O único esforço que quero fazer, porque a angústia está me
obrigando ao movimento, é escrever. Escrever e mostrar uma fuleragem de respeito
para quem quiser pagar pra ver. Nas duas plataformas, o conteúdo será igual. Quero
descobrir qual será a mais legal pra mim, se é que alguma será.
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