voltei a sonhar com casas. cada sonho, uma casa diferente. às vezes elas são pequenas, de madeira, realmente necessitadas de uma reforma, mas gosto tanto delas... mudo os móveis de lugar, analiso os cômodos, vejo o que pode ser feito, transformado. tenho animais de estimação. às vezes cães, às vezes gatos. meus gatos nos sonhos são filhotes. minha filha nos sonhos não é uma adolescente; ela é pequena, minha. às vezes um bebê, que mama em meu seio. às vezes estou grávida e excitada com a expectativa de um novo ser. às vezes, meu marido e meus amigos estão comigo. às vezes estou sozinha em uma enorme casa, com grandes escadarias em caracol. eu e os fantasmas, meus fantasmas. eles não me assustam. cuidam da casa e cuidam de mim porque eu sou a casa. com grandes vitrais, largos corredores, muitas salas, móveis antigos, quartos espaçosos, cozinha acolhedora, muitos andares, telas, pinturas rebuscadas, tapetes peludos. concluo que estou grávida de mim mesma há 35 anos e ainda não me pari. que beleza é perder-se em si mesmo sabendo o caminho de volta. que tristeza é perder-se em si mesmo e só se perder, sem nunca encontrar nada além de um caminho tão longo e tortuoso que não se sabe mais como voltar, nem como se foi parar ali. que inferno é ser sua própria casa, lugar de aconchego e aprisionamento; gozo e dor. pra sempre um preso no outro, intercalando entre quem está dentro e quem está fora, sem nunca poder fugir dessa dinâmica. entre a visão de tudo o que se quer, o que se pode e o que se consegue. quero me parir, quero poder sair de mim sem ter medo de voltar.
Pausa para retomar o fôlego
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