quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

tem alguém aí?
me perdi fazendo umas coisas por aqui; reformando, estressando, gastando e me enchendo de pó.
novo ciclo começou e acho que só agora começo a perceber que posso aproveitá-lo, que posso gozá-lo sem ficar o tempo todo reclamando. pesando a vida. nossa casa nova é linda; não está ainda como espero e descobri, definitivamente, que tenho problemas com imediatismo, que sou uma frustrada. ai, que dor saber; ai, que dor admitir. me vi por dentro e vi tantas coisinhas pequenas e absurdas que me envergonhei da postura que tenho adotado, mas como boa caga-tudo que sou não mudei ao perceber os erros, fiquei com muita raiva de mim e despejei sobre os outros, errando de novo, fechando o ciclo do erro bem redondinho. uix!

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Sobre viver pelas beiradas

Eu nunca pensei em suicídio; não a sério. Bom, talvez tenha pensado quando era adolescente, naquela ânsia de querer tudo; mas depois de adulta, não. É até engraçado, porque já me imaginei morrendo de diversas maneiras, mas nenhuma delas era por minha própria obra. E no que mais penso em todas essas situações de visualizar a morte é o momento exato da passagem: o fechar os olhos pra existência; isso me assusta muito!

O gosto que tenho pelos temas suicídio/morte é em virtude de tentar entendê-los; tentar compreender o que leva alguém a isso, mas nunca seria capaz de descobrir completamente e, na verdade, nem interessa. O que interessa a mim é que tenho muito, muitíssimo medo da morte e, eis a razão: não acredito em deus. Não acredito em céu, inferno, paraíso, purgatório, reencarnação e nem nada. Daí que, não acreditando em nada disso, acredito muito é que esta é a única vida que tenho, a única oportunidade que possuo de viver e de fazer qualquer coisa que eu queira e que eu não queira também. Gostaria de acreditar que quando morremos, a nossa consciência permanece, vai pra algum lugar, um outro plano, queria que eu fosse pra sempre, mas o máximo que consigo é pensar que vou me decompor e voltarei a fazer parte de um todo maior, vou estar espalhada pelo universo, e enquanto alguém lembrar de mim, estarei viva.

Sempre que eu estava mal, sempre que rolava alguma merda na minha vida, eu ficava tristíssima, mas não pensava que a solução fosse a morte. Eu sempre queria dormir (porque dormir sempre foi, e ainda é, a minha fuga) e acordar sem os meus problemas. Queria dormir e acordar me sentindo melhor, feliz, disposta, de boa. Eu queria dormir, só isso. Nunca quis morrer; eu queria ficar bem; só queria ser capaz de aproveitar a minha vida da melhor forma que eu acho possível. E olha, nem é algo de outro mundo, o que não quer dizer que seja fácil, mas são coisas que dependem exclusivamente de mim. Sabe aquela coisa de tarefa diária? A vida é uma porra de uma tarefa diária. Ela é safada!

Na minha vida perfeita, eu teria total controle das minhas emoções, seria equilibrada, serena, leria muitos livrinhos, faria meditação, estaria bem com todas as pessoas que me rodeiam e viajaria de vez em quando. É singelinho, né? Na minha vida perfeita, eu me conheceria profundamente e não deixaria que nada, nem ninguém - inclusive eu mesma -, me tirasse a sensatez.

Tem coisas que são muitos fáceis pra mim e muito difíceis pra você, e vice-versa. Okay. Sendo assim, a gente tem que SEMPRE estar exercitando as nossas debilidades, as nossas falhas. Em algum momento, se a gente tiver bastante paciência, a coisa depois de tanto pegar no tranco, pode virar automática, sabe? Eu não cheguei ainda nesse patamar...

Ninguém é totalmente fodido cem por cento do tempo. Eu gosto muito dos preceitos budistas. Acho que eles trazem a gente pro aqui e agora. Dão uma chacoalhada na gente. Não sou seguidora, mas deveria, de fato, levar à risca algumas coisas e uma delas, talvez a mais importante pra mim nesses tempos, seja a consciência da impermanência. A gente não dura pra sempre; nada dura pra sempre, e isso quer dizer que nem a nossa dor e o nosso sofrimento são eternos.

Viver é muito punk, mas também é muito bom, porque depois que uma dor qualquer passa ou diminui, na maioria das vezes é que a gente percebe que não deveria ter se afetado tanto com aquilo. É claro que há dores e dores, mas eu acredito muito que as coisas passam, mesmo que nos momentos de desespero a gente tenha a impressão de que aquilo vai ser pra sempre, não vai; nada é. Quando a gente termina com um namorado filho-da-puta, por exemplo? Na hora é aquele sofrimento, a dor, o fundo poço; depois que passa um tempo, a gente vê que rolou mesmo foi uma limpa na nossa vida! Claro que quando a gente perde alguém muito querido, a dor nunca vai embora, mas quem sabe não é o caso de mudar a perspectiva um pouco, e pensar que foi um privilégio poder conviver com aquela pessoa por x tempo? Claro, isso depois de curtir bem o luto, o que é muito importante. Botar pra fora mesmo, chorar, se descabelar, ficar com raiva, com culpa, com tudo o que tem direito, porque a morte é uma coisa doida que deixa a gente sem saber como agir mesmo.

Estou escrevendo isso aqui porque escrever o texto sobre o meu pai e sobre a minha própria depressão, fez com que eu recebesse diversas mensagens e eu vi, na verdade só comprovei o que eu já sabia, que é: todo mundo sofre, por mais que pareça que vivamos felizes o tempo todo no Facebook, todos nós sofremos perdas, temos ataques, nos frustramos, nos medicamos, nos sentimos sozinhos; todos temos problemas. Eu não julgo o meu pai pela escolha que ele fez, mas se eu soubesse, na época, da situação dele, eu teria feito todo o possível pra que ele pudesse enxergar que a vida vale a pena. Sinto muita falta dele aqui, hoje. Gostaria muito de tê-lo conhecido melhor, de poder ter dito a ele que eu o amava e que eu entendia a sua doença; mas eu nunca pude.

Esse buraco que a morte dele deixou em mim, é um buraco que eu não gostaria de deixar na vida da minha filha, porque eu sei o quanto de dúvidas e inseguranças isso poderia trazer a ela. Eu sei o quanto a morte por si só nos abala, mais ainda quando se trata de um suicídio. Pensando nela, eu procuro pensar mais em mim, e me tratar melhor, me cuidar, porque a única coisa que posso deixar a ela, além da educação e dos valores blá blá blá é que ela tenha em mente que viver é uma luta, que nem sempre a gente está bem, que a felicidade são realmente alguns momentos no meio de tantos outros, mas que nem por isso a gente deve desistir.

A questão é: se você tem um diagnóstico, busque ajuda médica, faça terapia, tome seus remédios, não desista do tratamento. Procure sempre alguém pra conversar, isso pode fazer uma diferença enorme. Se você tem um crença que te traz conforto e paz, agarre-se nela. Reze, medite, faça a sua parte. Quando a gente tá na merda, a cabeça fica confusa, cheia de cocô. Às vezes, a gente só precisa ser ouvido e ter a sensação de que a gente importa, de que a gente faz alguma diferença, e a gente faz.
Eu sempre digo que sou habitada por vários eus, recomendo a leitura de um texto que escrevi chamado Legião. Nele, dou voz a dois desses eus: o Torpe e o Razoável. O Torpe é aquele espírito-de-porco que não quer nada com nada; funciona na lei do menor esforço e tá sempre pronto pra me levar pro buraco. O Razoável é como o nome já diz; ele tenta me mostrar o lado certo e bom das coisas; me coloca pra cima e diz que eu sou capaz.

Nos momentos ruins, o Torpe tá sempre lá me avacalhando e berrando muito mais alto do que qualquer outra parte de mim. Minhas outras criaturas ficam quietinhas, de cabeça baixa, concordando com o que o escrotão diz. Quem fica mal com isso? Eu, Karla. Mas percebo também que quando meus lados mais racionais conseguem se impor, me sinto melhor, capaz, viva! É como se o Torpe tivesse saído pra comprar cigarros e não fosse voltar mais. É ótimo! Mas, é algo que eu preciso trabalhar todos os dias. Preciso continuamente regar a minha vontade, a minha força, a minha potência de existir.

No fim das contas, acho que dá certo. Compensa a gente sofrer, porque quando a gente é capaz de olhar o sofrimento de fora, a gente percebe que está vivendo de verdade, que está dando a cara a tapa; que está lutando pra viver. Não quero viver pelas beiradas da vida, quero me enfiar nela com tudo o que tenho direito. Quero ter a certeza de que quando a minha hora chegar, eu terei feito tudo o que pude pra fazê-la valer a pena.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Sobre ter depressão II

Eu já havia ido a alguns psiquiatras, uns três ou quatro, e todos eles me receitavam alguma medicação; eu comprava os remédios e não tomava por mais do que quinze dias. Na verdade, não queria tomar remédios, achava que um remédio só iria mascarar meus sintomas, não queria ficar dependente de nada. Ainda acreditava que eu poderia sair disso sozinha.

Então procurei muitas coisas: terapia, análise, apometria quântica, florais, hipnose, ayahuasca, fumei sálvia, comi cogumelos, tudo procurando tentar me entender, tentar chegar lá no fundo e descobrir a razão de eu ser assim; achava que se eu descobrisse, que se conseguisse chegar na raiz de tudo, que talvez eu superasse e conseguisse ficar bem.

Acontece, meus amigos, que tudo isso só serviu pra me mostrar que às vezes a gente não tem como fugir do que está entranhado na gente, não tem como fugir do que nos compõe. Eu tenho genes "tristes", "defeituosos". Meu pai tinha transtorno de humor bipolar e minha mãe também tem transtornos de humor. Se juntarmos os dois e somarmos com todo o resto e como tudo me afetou, na minha infância, na minha adolescência, na minha vida adulta, só podia dar merda.

Diante de tanto levar a vida com a barriga e de sentir que me distanciava muito do que eu gostaria de ser, percebi finalmente que precisaria de uma ajuda que me fizesse sentir melhor, que fosse capaz de fazer o meu cérebro produzir substâncias que eu não consigo fazê-lo produzir só pela minha vontade. Porque por mais que meu desejo consciente seja o de estar bem, na prática, eu não conseguia produzir nenhum movimento que me levasse a isso. Tudo é muito custoso, cansativo, irritante. A cabeça fala: vai! - só que o corpo fala: não, fica aqui, vamos dormir, vamos comer, tá ficando tudo cagado, mas não vamos pensar nisso...

Daí, depois de tanta negação, de tanta hesitação, de tanta prostração, decidi procurar novamente por um psiquiatra. Faz um mês que estou tomando uma medicação e acho que ela já começou a produzir algum efeito. Ela tem me acalmado e minha postura está lentamente mudando. Começo a produzir o movimento, começo a sentir que estou saindo do buraco em que estava, em que ainda estou. Não é uma beleza e nem é instantâneo; ainda tenho uns dias punks, em que me arrasto pela casa e fico deitada, sem grandes vontades, mas voltei a ouvir músicas e a cantar; não é muito, mas estou aqui também, escrevendo, me expondo, porque hoje, mais do que nunca, acho que é importante pra mim assumir que tenho uma condição que não me incapacita, mas que debilita a minha vida e não quero viver assim pra sempre.

As pessoas têm problemas em falar a respeito da depressão, têm problemas em falar que sofrem, que não são felizes o tempo todo, que não têm um prazer enorme em viver. Elas têm problemas em falar sobre qualquer coisa que envolva o seu mental, porque ter uma doença mental leva o senso comum logo pra loucura. Não se trata de loucura, trata-se de sofrimento psíquico, dor que não é aparente, mas que machuca, cutuca a gente diariamente e nem com a melhor das boas vontades, nem com o melhor dos conselhos, não se cura.

Busquei ajuda porque não quero ficar na sombra, me consumindo, me diminuindo, achando que o problema sou eu como um todo. Não, o problema está em uma deficiência do meu cérebro, mas não sou eu. Eu, quando pequena, sempre achei que teria uma "missão" especial, achava que estava aqui pra fazer a diferença, pra tocar as pessoas, mas depois que cresci, depois de como passei a me sentir, não conseguia mais alcançar aquela menina, nem fazer nada de especial.

Agora, quero muito reencontrá-la e dizer a ela que sim, podemos fazer o que quisermos.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Sobre ter depressão

Já falei aqui sobre depressão e dessa vez, dessa vez é muito sério o que vou escrever. Não é nada fácil você admitir que tem uma transtorno de humor. Não é nada fácil você admitir que tem um problema e que não consegue, sozinho, resolvê-lo. Só que para além disso, você tem que perceber que a depressão nem sempre se mostra do jeito que a gente pensava... Como tristeza profunda. Ela pode aparecer como uma irritação sem razão, como explosões de raiva, como uma vontade de comer demais, como uma vontade de dormir demais, como uma vontade de fazer de menos... Como a vida passando e você deixando ela ir de qualquer jeito.

Quando olho pra trás, não consigo identificar exatamente quando foi que ela surgiu, o dia exato em que eu deixei de ser quem eu pensava que era. A vida da gente vai trabalhando, as coisas vão acontecendo e você acha que lida direito, que resolve as coisas, mas lá dentro, a forma como os fatos são processados na gente, a gente só vai perceber depois.

Cheguei em um ponto em que achava que eu era assim: meio rabugenta, taciturna, irônica e pavio curto. Escrachada, grosseira, preguiçosa e sem determinação pra nada; vadia, como a minha mãe costumava me chamar. Durante muito tempo a vida não foi fácil pra mim. Tive que lidar com muitas coisas e é claro que todo mundo tem problemas, sofre e tudo mais, mas só posso falar de mim, do que eu vivi e de como as minhas vivências criaram feridas mal curadas em mim. Os meus textos sempre falaram sobre mim e sobre a minha perspectiva, porque é o que tenho.

Só queria ser feliz; por que era tão difícil ficar numa boa (?), mesmo depois, quando tudo parecia mais encaminhado, quando a vida adulta "dentro da caixinha" da normalidade estava okay: casa, filha, marido e emprego. Mesmo com tudo "perfeito" ainda persistia a falta de tesão. Fazia as coisas no automático. Tá tudo bem, nada errado, mas aí, briga com marido por besteira, briga com a filha por besteira, vai pro trabalho, faz as coisas, não faz as coisas. Paga conta, dorme, come, come, come, dorme, se sente horrorosa, gorda, feia, burra, incapaz, briga com o marido, dorme, dorme, dorme, trabalha, briga com a filha, briga com a mãe, faz terapia, se sente triste, se arrasta pela casa, faz barraco na fila do banco, compra o que não precisa, dorme, dorme, dorme, fuma demais, briga por qualquer coisa, se estressa por qualquer coisa, aumenta o tom por qualquer coisa. Todo mundo contra mim, aí me fecho numa conchinha e o looping vai longe. Vida de merda, eu pensava.

Pensava: você tem que se esforçar mais, tem que fazer direito, tem que ter controle, tem que ficar acordada, tem que fazer dieta, tem que se exercitar, tem que estudar, tem que sair com os amigos, tem que alimentar os gatos, tem que limpar a casa, tem que, tem que, tem que, daí eu dormia... Vou dormir só um pouquinho, quando acordar, eu faço o que tenho que fazer. Toca o alarme depois de meia hora: só mais um pouco. Dez minutos depois: só mais um pouco. Dez minutos depois: só mais um pouco. Quatro horas depois eu acordava, com humor do cão, me sentindo uma filha da puta porque dormi demais e ainda estava cansada, e ainda não tinha vontade de qualquer coisa.

Vou comer. Salada? Uma refeição equilibrada? Porra nenhuma! Vamos meter pra dentro um calzone, um pastel e, pra fechar, uma fatia de bolo! Faz isso todo dia o dia todo. No trabalho, umas tranqueiras gordas e mais um chocolate quente, porque tá frio. O corpo já está aquela massa amorfa, gelatinosa. Se olha no espelho e só sente pena de si e fome, mais fome; por favor, desça toda a comida gordurosa do mundo que eu tenho um buraco aqui que não se fecha nem com concreto armado!

Aquela ansiedade pelas contas, pelo mestrado que não fiz, pelas coisas que eu disse e pelas coisas que deveria ter dito; pela louça na pia, pelo chão sujo, pelas roupas pra lavar, pelo excesso de cigarros, por pintar os cabelos brancos, pelas brigas e desentendimentos. Pelo medo de morrer e pelo medo de continuar viva e inerte, pelo estado de estupor que só some na frente da internet, das séries e do sono. Pela comida que vem, se come, se enche o bucho, e se passa o dia todo pensando no que vai comer depois e se consumindo pelo que se come depois e depois e depois.

Aí, um dia você acorda numa boa, de repente, se fecha do nada, fica ranzinza, puta sem qualquer motivo, irritada com a sombra, com a existência, com a frustração. O que foi? Nada. Mas o que houve? Nada. Então, por que você está assim? Não sei. Repete o refrão. Daí briga, chora, soluça, entope o nariz e alivia um tanto. Daqui a pouco, fica do mesmo jeito.

Nem sempre é assim: quando você é convidado para alguma coisa, no fim das contas acaba se divertindo, mas daqui a pouco, fica do mesmo jeito. Fica sempre do mesmo jeito. Do mesmo jeito.

Não é legal viver assim, sendo uma sombra, sendo refém de si mesmo, sem controle, sem vontade, sem prazer.

(continua)