segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Chama negra

Sonhei que voava. Várias vezes tive esse sonho. Começo dando saltos leves e quando me dou conta, estou flutuando com graça; é a melhor sensação do mundo. Meus braços me norteiam e consigo sentir o ar suave percorrendo todo o meu corpo. Rodopio, dou cambalhotas, mas é tudo lento e sinto cada parte de mim sendo parte da matéria que não sou capaz de sentir como tangível.

Hoje, eu alçava voo em uma praia, em um fim de tarde febril e de céu azul acinzentado. Havia algumas pessoas ali e a garota de cabelos cacheados me olhou com admiração quando eu ascendi. Eu trajava um vestido preto, na altura dos joelhos, acinturado e de saia rodada; estava descalça. Fizeram-se pequenos redemoinhos de areia aos meus pés, e então essa areia tornou-se um rastro de purpurina dourada por onde eu ia passando.

Eu dava a mão a ela, queria tocá-la e trazê-la comigo para o ar, mas não consegui porque ela deveria ficar ali.

Agora me ocorreu que houve linda junção de elementos. A água da praia, a areia que é o chão, a terra; e o ar, que era onde eu, fogo, me propagava, como uma chama negra, feliz feliz feliz. Enquanto houver ar, me propagarei.

Há pouco vi uma coruja perto da praia. Nunca tinha visto uma coruja ao acaso. Ela era pequena, graciosa; olhou-me nos olhos e voou livre em direção a uma luz. Sincronicidade.

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