sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O amigo mais perigoso

Quando fomos apresentados pela primeira vez, ele nem era de verdade. Era um cilindro de madeira, coberto com um papel que imitava um cigarro, daqueles com filtro cor de caramelo. Não lembro como apareceu na nossa casa, nem como, tempos depois, ele sumiu, mas a primeira vez que peguei um cigarro, esse, que era de mentira, eu devia ter uns cinco anos.

Eu o levava no microônibus da escola, e o exibia para a minha coleguinha de poltrona, como se o fumasse de verdade, achava o máximo!

Essa é a primeira lembrança que eu tenho sobre cigarros, e sobre o fascínio que eles começaram a exercer sobre mim, e, imagino que sobre muitos dos que fumam hoje.

O curioso é que minha mãe nunca fumou, e meu pai, que eu saiba, fumava, mas depois que eu nasci, ele largara o vício sem recaídas. Não creio que cigarros tenham muito a ver com educação e exemplo, mas com o status que ele pode proporcionar, pelo menos no início, porque depois a relação fica tão íntima, que você e ele tornam-se inseparáveis, e o cigarro vira uma muleta para uma pessoa que não tem qualquer deficiência.

Mais tarde, ainda na infância, com uns dez anos, talvez um pouco mais ou um pouco menos, eu pegava folhas de caderno, dobrava-as, colava suas pontas e queimava-as, como se fosse cigarros acesos. Fazia, então, uns cinco cigarrinhos e fingia fumar na frente do espelho. Nas encenações, sozinha, com meu “cigarro” na mão, eu era sempre mais velha, e geralmente eu era um personagem com problemas emocionais, que fumava sob o pretexto de alguma grande preocupação com alguém que não existia. O cigarro era um elemento de glamour, que me tornava uma mulher mais interessante, mais misteriosa... Isso numa cabecinha de 10 anos.

Quando estava perto de fazer doze anos, uma tia minha que fumava, e que por isso, eu a achava super sofisticada, nos visitou, ficando uns dias conosco, e claro que ela fumava na nossa casa. Quando minha mãe e ela saíam, eu pegava as baganas de cigarro que ficavam no cinzeiro, as acendia, e fumava o filtro, então! Pois não sobrava mais do que meio centímetro de fumo naquilo, e essa provavelmente foi minha primeira experiência com cigarros, ou com o filtro deles.

Com quatorze anos, quando eu ia às boates, eu fumava também. Só por esporte, só para ajudar a manter o ambiente da casa noturna com a névoa típica advinda de gelo seco e cigarros. Era só aos finais de semana, e mesmo assim, muito de vez em quando, porque não era em toda festa de boate que eu podia ir com quatorze anos. Eu fumava porque achava legal, eu sequer sabia tragar... Guardava a fumaça na boca e soltava, era esse o processo.

Aprendi a fumar de fato aos dezesseis anos. Aprendi a tragar, beber, fumar maconha de vez em quando, e aprendi também um monte de coisas – merdas – que a gente faz quando quer fazer parte de um grupo, ser aceito, admirado. Hoje eu sei que o cigarro passava a impressão de que eu era descolada, “prafrentex”, sem limites, sem regras, e afinal, era isso que eu queria que pensassem de mim, e eu consegui.

Hoje eu não faço mais as merdas que fazia na adolescência, mas o meu cigarro ficou, continuou comigo, o cigarro me acalmou inúmeras vezes, fez eu me sentir mais confiante, mais interessante, mais tranqüila. Em resumo, eu pude contar com o cigarro quando eu estava totalmente sozinha, ele me era um alívio, e nunca reclamou de nada.

Fumo mais agora do que no início derradeiro, mas fumo muito menos que bastante gente. Sei que fumar é uma merda, que no fim das contas as únicas coisas que você ganha, além do apelido de chaminé, é um bafão, e roupas e cabelos com cheiro de boate durante a semana inteira, e não só nos finais dela, mas acredito que a culpa não seja do cigarro, e sim nossa, porque somos nós que os fumamos, e não o contrário.

Fumar não é atitude mais esperta que uma pessoa pode ter, isso é certo. Mas é certo também que é uma escolha, assim como todas as outras que fazemos na vida, e como as outras, fumar traz conseqüências. Enfim, continuo fumando, e mesmo sabendo que não é o melhor caminho, odeio gente que vem desfiar sermão sobre quem fuma.

Esse papo de fumante passivo, não polua o ar que eu respiro... Vão todos à merda!

Eu tenho asma, fumo desde os dezesseis anos e estou aí. Não estou dizendo isso como forma de me vangloriar, mas sim de mostrar que eu sei dos riscos, e sei há bastante tempo, e resolvi assumi-los, e isso não é da conta de ninguém. Então, se alguém vier falar sobre coisas que meus pulmões já estão pretos de saber... Caia fora!

Cada um na sua... Tem gente que trepa, tem gente que fuma, tem gente que come, tem gente que chora, tem gente que dorme, tem gente que finge, tem gente que bebe, tem gente que cheira... E tem gente que faz tudo isso ao mesmo, mas não necessariamente na mesma ordem. Tem gente que faz e finge que não faz... E isso é bem pior do que fazer e deixar que todo mundo fique sabendo...

Espero que a minha história sobre o cigarro tenha inspirado os adolescentes a começarem no vício o quanto antes... huauhuahuahua... Brincadeira!

Espero que cada um saiba o que faz, e que de preferência escolha para si o que for melhor, e não acho que o cigarro esteja na lista das boas opções, assim como fazer “merda”, porque fazer “merda” é de uma generalidade que se você fizer muitas, vai lembrar-se delas para sempre!

Chega de sábios conselhos da tia fumante que engravidou com dezoito anos.

Bai bai...

Um comentário:

  1. hahahaha, ótimo post. Além da mensagem para os passivos, me identifiquei com a tua história. Pegar os finzinhos do cigarro e acender... que sensação... Agora, quando chega no finzinho, jogamos fora. hehe! :)

    ResponderExcluir